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Declaração de Emergência Climática


Coragem para fazer história

Há 4 anos que declarámos emergência climática dentro do Climáximo. Nessa altura, já sabíamos que os governos e as empresas não iam travar a crise que criaram, e que nós éramos aquelas de quem estávamos à espera para nos salvar. Mas durante estes anos, alguma parte de nós quis acreditar que não chegaria a tanto: que talvez ainda chegaria o momento perfeito para nos revoltarmos, talvez outras pessoas viriam para nos ajudar, talvez não tivéssemos de arriscar mesmo tudo.

Chegámos ao verão de 2023, e a memória que fica connosco do ano que passou são catástrofes brutais e milhares de mortes que mesmo nós, no Climáximo, temos de nos esforçar para não tornar banais: a sentença – quer de prisão, quer de morte – de dezenas de companheiras nossas por todo o mundo que se insurgiram contra o genocídio e ecocídio do capitalismo; as notícias de que a barreira de 1.5ºC de aquecimento pelos quais milhões de pessoas lutaram, poderá ser ultrapassada em apenas alguns anos; e aquela que foi a semana mais quente de sempre, e que brevemente deixará de o ser.

Não estamos apenas numa emergência global, estamos em guerra. Anualmente, governos, empresas e instituições criadas para manter a aparência de paz, matam em todo o mundo, em busca de lucro, pelo menos milhares de pessoas. No momento em que vivemos, cada tentativa de aumento de emissões corresponde à tentativa, não negociável, de construir um novo campo de concentração. Cada ano que passa sem o corte de 10% das emissões globais é um ano em que milhões de pessoas morrem em campos de concentração. Cada dia em que não os travamos e destruímos as suas armas de aniquilação, é mais um dia sem paz. Há muito que eles – governos, empresas e instituições – declararam guerra às pessoas. Há muito que eles nos estão a matar. Há muito que eles demonstram não ter intenções de parar. Foram os crimes deles que nos trouxeram agora à beira de um ponto de não retorno. É o pé deles no acelerador para o inferno climático.

Mas e nós que vemos isto a acontecer e não fazemos de tudo para parar as mortes? Cada dia em que a crise climática não é o tópico principal da agenda pública, que nós não fazemos tudo o que está ao nosso alcance para os travar, é um dia em que estamos a ser cúmplices com o genocídio e o ecocídio e a deixar os seus crimes passar em branco. O estado de falsa paz social em que estamos deve-se ao esforço deles de nos manter dissonantes da realidade catastrófica em que vivemos. É preciso quebrar esta falsa sensação de paz e deixar visível que há muito que eles declararam guerra à humanidade.

Foi também tudo aquilo que nós, no Climáximo, fizemos e o que não fizemos para os travar que nos leva a perceber que já nada do que fizemos continua a fazer sentido. O que a emergência climática exige de nós em 2023 é uma rutura completa com o que foi o Climáximo até hoje e uma transformação total de quem nós somos.

2023 é o ano em que nos comprometemos a:

  1. Aceitar que o governo e as empresas estão em guerra com a sociedade e o planeta.
  2. Construir a resistência e ripostar apesar dos riscos pessoais e organizativos que podemos vir a correr.
  3. Criar a coordenação internacional que implementa a justiça climática, dentro dos prazos ditados pela ciência.

Fá-lo-emos com coragem, porque é a nossa única hipótese de travar o colapso civilizacional e implementar a paz.

Em Dezembro, voltaremos a avaliar os compromissos que fizemos para travar esta guerra, e perceber que transformações temos que continuar a fazer.

[1]. Onde se contam pelo menos 11 milhões de vítimas.