Eu sei que ainda sou muito “estrangeiro” na cultura portuguesa e que tinha uma experiência particularmente excecional em Portugal (sempre entre pessoas progressistas, humanistas, com pensamento crítico etc. 🙂 ). Mas tinha pensado que sabia algumas coisas sobre Portugal em geral.
Estive enganado.
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Ontem estive numa sessão pública organizada pelo Ministério do Mar sobre a Extensão da Plataforma Continental Portuguesa. Aqui podes ver o que está sob controlo do estado português, e a extensão que querem.
Não vou entrar aos detalhes do projeto. Só queria aproveitar esta experiência para tentar escrever a minha primeira nota originalmente escrita em português. (estes blog-posts não se chamam “artigos”, pois não?)
Olha ao cartaz. “Portugal é mar.”
Demorei quinze minutos na conferência para perceber que a referência não era à sardinha, bacalhau, praias, surf etc. Que pollyanna que estive, foi “corrigido” brutalmente durante duas horas.
A Ministra do Mar, quem esteve a vender o mar nos Estados Unidos, abriu o evento. As seguidas intervenções tinham referências diretas a “Alargar Portugal” e ao “Conhecimento, Conhecimento, Conhecimento”. Pensei: pronto, isto me parece século quinze, mas se calhar não percebo bem o que estão a dizer.
Especialistas em geologia mostraram vídeos e fotos dos animais e plantas bonitas. Não percebi bem, mas disseram várias vezes que não eram biólogos (e não houve intervenção de nenhum biólogo). Mas então porque é que estamos tão entusiasmados sobre um dos maiores chocos naquela área, sem saber nada sobre ele? Em fim, finalmente houve um slide que disse: “Para quê?” As repostas foram claras: recursos vivos (para cosmética e medicina) e recursos não-vivos (combustíveis fósseis, fósforo, diamantes, areias, e vários minerais (como níquel, cobre, ouro, zinco e cobalto)).
Num slide foi dito que estão a aproveitar a costa continental para os combustíveis fósseis, e dois slides depois houve a tal foto famosa do Acordo de Paris, porque o slide seguinte era para dizer que para os carros elétricos a gente precisava de baterias (e por isso de níquel). Genial, né?
[Sidenote: Para reforçar a ideia, o orador mostrou fotos da campanha sefosseeu? em que, pelo que percebi, alguns adolescentes foram perguntados o que levariam com eles se fossem um refugiado. Num truque inesperado (que o público achou hilariante), todos tinham smartphone na sua lista; então precisamos de mais baterias; então precisamos de níquel. O orador ou não entende bem o que é ser refugiado, ou entende muito bem e acha piada estar noutro lado do percurso dum refugiado.]
Finalmente chegou a Ministra novamente, para encerrar o evento. No clímax de “Alargar Portugal” ela falou abertamente sobre “este nova caravela de descoberta” e que “não há perguntas sobre se vamos ou não; vamos, mas quero saber quem vem comigo”. Convidou-nos todos: “Embarquem connosco!”
Deprimente.
Sinceramente, não estive preparado para tantas referências diretas ao colonialismo e não estive preparado para um discurso destes ter aplausos de dezenas pessoas, no espaço público.
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Nota-se uma semelhança interessante entre o colonialismo e o extractivismo moderno, quando estas pessoas olham às “zonas ainda não descobertas” e vejam só coisas (vivas e não-vivas) para extrair e explorar.
Não embarques com eles.
It’s obvious that is a enormous interest to explore that vast area.If the UN agree with motivation from the Portuguese Government with Major Finantial interests,the area will about the size of India I believe.
Is a book that I read A couple of years ago from Tiago Pitta e Cunha.
Is not a marine Biologist,is a lawyer specialized in EUropean Law,Ecomomist and Political science,he is the man Behind this motivation since 2003 ,worked in the UN In area of the seas,represented Portugal and the coordination of the member states of theEuropean Union etc.is a lot more .
This and other books that are very small and many people don’t read it is promoted by the ” Fundação Francisco Manuel dos Santos que tenho a certeza que sabe quem é. Leio o livro se quiser PORTUGAL E O MAR de Tiago Pitta e Cunha Da FFMS.
Se puder ajudar de qualquer forma desponha.
Carlos Simal