O Climáximo considera o mau registo das políticas climáticas da Assembleia da República como um apelo à ação para toda a população. O planeta é demasiado importante para ser deixado aos políticos profissionais.
Na Assembleia da República vigora um ambiente mentalmente confuso, onde a ciência, a causalidade, a lógica, e a realidade fora das suas paredes aparentam não ter lugar.
Estas mesmas paredes viram a Ministra do Mar declarar que não há contratos de exploração de petróleo em Portugal (um facto claramente “alternativo” à realidade) e o ex-Ministro do Ambiente defender estes mesmos contratos (desafiando definições básicas de não-contradição).
A sala dos plenários ouviu o Primeiro Ministro António Costa dizer: “Agora, não podemos, naturalmente, nem pôr em causa contratos que estão em vigor, nem pôr em risco o não aproveitamento de recursos geológicos que possam ser aproveitados pelo país, sem sacrificar outros valores essenciais.”
Nesta mesma sala a assembleia parlamentar chumbou sucessivamente propostas para
– revogar todos os contratos do petróleo e gás (PAN),
– suspender os contratos no Algarve (BE),
– suspender os contratos no Algarve e Costa Alentejana (PEV),
– revogar o Decreto-Lei nº109/94 que incentiva a exploração de petróleo e gás no país (PAN),
– a proibição da exploração e extração de gases óleos de xisto em todo o país (BE), e mais recentemente
– a proibição da realização de novas concessões para a exploração de hidrocarbonetos no território nacional (PAN & BE) e
– a suspensão da pesquisa e prospeção de hidrocarbonetos ao largo de Aljezur e reavaliação, no plano nacional, dos demais contratos de concessão (PCP).
Estas são todas as propostas para não aumentar as emissões de gases de efeito de estufa.
O ambiente do Parlamento parece conter a sua própria realidade virtual, alheia ao mundo empírico: uma realidade de riqueza sem prosperidade, de crescimento económico sem bem-estar, de negociação sem compreensão, de poder sem liberdade. Esta realidade alternativa compromete ao mais alto nível as capacidades de juízo racional e planeamento consequencial, nutrindo no seu cerne um “realismo” político que se traduz no mais puro surrealismo climático. Para nos manter num planeta minimamente habitável, temos que limitar o aquecimento global a 2ºC em relação aos níveis pré-industriais. Para isso, Portugal tem de cortar as suas emissões de gases de efeito de estufa em cerca de 60-70% até 2030.
Num contexto mentalmente são, estaríamos neste momento a discutir os detalhes duma transição energética justa, racionalizando e planeando a produção, a distribuição e o consumo para o benefício das comunidades e dos trabalhadores.
No contexto insano capitalista, andamos ainda a negociar contratos para aumentar ainda mais as emissões.
No realismo político da AR, há um défice de realismo físico e químico. É por isso que nós – os que somos capazes de ver o céu, sentir a chuva, reconhecer a existência de pássaros, árvores, água, (outras) pessoas, assim como estudos científicos com revisão por pares, e regras básicas de coerência lógica – nós temos que assumir a responsabilidade e forçar uma mudança radical e sistémica.
É por isso que o Climáximo reivindica:
- o cancelamento imediato de todas as concessões de exploração de hidrocarbonetos;
- a introdução de políticas que beneficiem ao mesmo tempo as pessoas e o planeta, tais como a expansão dos transportes públicos, eficiência energética, energias renováveis e descentralizadas;
- e a criação massiva de Empregos para o Clima, para concretizar esta transição justa dentro dos prazos do sistema climático da Terra.
O Climáximo tudo fará para fazer acontecer esta transição rápida, e para romper com a lógica suicida dos combustíveis fósseis, que sustém o capitalismo extrativista, que extrai tudo o que consegue às pessoas e ao planeta.
Somos natureza em auto-defesa.
Climáximo
maio 2017