Wrap-up: Parar o Furo

Foi no ano de 2018 que o consórcio ENI/Galp decidiu avançar com o furo para extração de petróleo ao largo de Aljezur, na costa Alentejana. Esta decisão teve naturalmente o avalo do governo português. Nesta altura já se sabia que apenas tínhamos cerca de uma década para salvar o planeta, reduzindo drasticamente as emissões de gases com efeito de estufa. Além disso o governo português assinou o Acordo de Paris, que, precisamente por não ser vinculativo, estava falhado à partida, mas isso é outra história. O que importava no momento é que o nosso governo o tinha assinado e este traçava linhas para não ultrapassarmos o aumento de temperatura de 1.5ºC (pior caso 2ºC). Ao aprovar a extração de petróleo na costa portuguesa, o nosso governo revelou que apenas se preocupa com o ganho económico do curto prazo e com o ganho político das próximas eleições, ao invés de uma estratégia de longo prazo que salva não só o nosso país, mas a nossa verdadeira casa, que é o planeta Terra.

Mal tomámos conhecimento desta decisão suicida arregaçámos as mangas e fomos à luta.

Começámos com a competição “Selfies contra o furo“, onde desafiámos todas as ativistas (da velha guarda, da nova escola ou de coração)  a partilhar nas redes uma selfie com a hashtag #pararofuro. Sendo quatro delas escolhidas para terem destaque, devido à coragem, à inspiração, à quantidade de ativistas agregadas ou simplesmente pela bizarria.

Durante este período tomámos conhecimento que Agência Portuguesa do Ambiente (APA) era negacionista, opinando que este projeto não teria impactos negativos de maior e portanto não seria necessário um estudo de impacto ambiental do furo. Vamos dar ênfase, estamos a falar da Agência Portuguesa do Ambiente…

Naturalmente que não podíamos deixar passar esta em branco e convocámos uma palestra pública na sede da Galp, para retirar esta gente da ignorância do que são as alterações climáticas e as suas causas, através da intervenção do docente em alterações climáticas Gil Penha-Lopes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

 

Foram também convocadas assembleias abertas, uma reunião alargada e uma acampada, com o objetivo de mobilizar para a luta contra este crime contra a humanidade.

Com o crescer da contestação social a este projeto nefasto, a classe que nos domina juntou esforços para nos derrubar, não tendo o mínimo pudor em se aliar com criminosos ambientais como a BP (não sendo necessário falar do famoso derrame de Deepwater Horizon).

Sem temer esta ameaça estivemos presentes no Ministério do Ambiente, apelando à talvez ainda existente consciência do excelentíssimo ministro [sic], para que recorresse ao que lhe restava de ser humano e ser senciente e se demitisse.

 

Seguiu-se mais uma acampada, uma sessão de esclarecimento e ainda a visita de um veleiro anti-furo!

Durante este período começaram a aparecer hacks aos sinais de trânsito STOP com a frase “furo de petróleo” em solidariedade com esta luta, que é de todas nós. Juntamente com várias ações, como uma campanha nas redes sociais contra o patrocínio da Galp à seleção portuguesa, um redecoração petrolífica do chão da Câmara de Loulé e uma marcha pelo Clima em Lisboa e no Porto.

Mas a contestação social não ficou por aqui. Houve também um buzinão em Loulé, uma caminhada em Portimão, um cordão humano marítimo de surfistas, bodyboarders e banhistas em várias praias de Portugal Continental,

uma personificação mais correta do ministro do ambiente e do que ele deveria estar a defender, durante uma conferência de imprensa do verdadeiro doppelgänger que se encontra com a pasta. Tivemos também o apoio de ativistas de outros cantos do mundo, que se solidarizaram com a causa.

Houve ainda tempo para uma ação de arte aérea na Cova do Vapor (Caparica),

um serviço de catering onde foram servidos cocktails de petróleo e água originária de fracking na receção a Obama,

foram largadas notas regadas a petróleo no Ministério do Ambiente

e ocorreu uma passagem pelo Festival Músicas do Mundo em Sines, onde o Governo Autónomo dos Latifundiários do Petróleo (G.A.L.P) foi expulso da praia pelos manifestantes a favor do clima.

Entretanto foi lançada uma providência cautelar que suspendeu o furo por três meses.

Mas a verdadeira vitória estaria ainda por vir

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