Eu soube do festival primeiramente por uma mensagem que recebi do Kiko, via facebook. Depois de falar com ele num evento do “Aterra” e também com a Ana Rita Veiga numa reunião da Climáximo, pareceu-me aliciante o espírito do festival e decidi participar.
O evento teve lugar num parque natural chamado “do Amial”, num local chamado Macieira, no concelho da Lousada. Participei logo na fase de organização, quando estavam lá no sítio muito poucas pessoas e o espaço ainda nu de instalações para o festival. Decidi participar logo nesta fase pois não sabia se poderia ir nos dias de Agosto em que o evento ocorreria mesmo. Não foi um grande problema para mim, pois o Kiko já me tinha dito que era tão ou mais fixe ajudar na organização do festival do que participar propriamente. Acabei por poder ir ao festival propriamente dito, mas a experiência de ajudar a organizar o evento foi realmente extraordinária e começo o relato mesmo por esta fase.
Fui na minha própria viatura, no meu carro, mas dei boleia a várias pessoas, nomeadamente à Ana Rita e ao Kiko na ida para a Lousada, entrando deste modo no espírito de base do festival (nem que tenha sido no sentido de “dar” a boleia).
Chegando ao Parque do Amial, estávamos ainda poucos a acampar e o espaço ainda nu de infraestruturas para o evento, como seria de esperar, uma vez que nós é que estávamos ali para organizar os preparativos para o festival, para o HitchFest, que iria ser um mês depois. Fora um bar lá do parque, juntamente com as suas instalações sanitárias fixas (que não incluíam duches, apenas sanitas e lavatórios, estes tivemos que os planear e conceber depois juntamente com outras instalações sanitárias na versão seca, tal como no Camp-in-gas) não existia mais nada de infraestruturas no parque. Eu já tinha uma ideia de como seria o início, por explicações que a Ana e o Kiko, que já eram meus amigos, me tinham dado. Posteriormente conheci e travei amizade com o Satim e o Fred, que se pode dizer que eram os organizadores principais do festival, a par com a Ana e com o Kiko. Eles todos clarificaram-me então as ideias de que o festival seria autofinanciado, que seria feito com base em donativos de diferentes tipos e de diferentes entidades e como faríamos para os angariar. Posso referir que o HitchFest teve o apoio total da Câmara Municipal da Lousada, que deu patrocínios financeiros e até logísticos, como o envio de carpinteiros seus para a conceção de algumas infraestruturas de madeira do festival. Porém, para tudo o que o evento precisou, foi necessário muitos mais apoios de vários particulares, foi preciso fazer o chamado “crowdfounding”, que foi o fundo com o montante financeiro necessário para concretizar os nossos objetivos (que foi atingido e até ultrapassado, creio), além de angariar vários bens e materiais de diferentes tipos para nossa utilização direta, como: comida, ferramentas, materiais de construção, artigos de papelaria, entre muitos outros. Quer para a angariação de dinheiro quer de bens, a Ana explicou-me como abordar qualquer particular, pessoa em si ou numa empresa, para atingir os nossos objetivos de angariação de donativos e, consequentemente, de divulgação do nosso festival. Para tal, vendemos rifas às pessoas em si e pedimos bens a diversas empresas, ao mesmo tempo que explicámos em que consistia HitchFest e espalhávamos panfletos e cartazes do festival.
No que me toca, e tendo em conta que esta era uma experiência pela qual eu não passava há muito, a angariação de donativos para um evento, consegui angariar umas dezenas de euros em alguns dias, além de alguns bens como artigos de papelaria (para a equipa de decoração do parque para o festival), ferramentas e materiais de construção, ficando ambos satisfeitos e orgulhosos da prestação. No entanto, devo dizer que embora esta tenha sido a parte mais gratificante da parte da organização, a melhor experiência de angariação que tive foi o estar com o Satim quando fomos a uma madeireira para tentar arranjar um ou mais troncos/toros de árvores para conceber uma ponte improvisada para servir de travessia no rio que atravessa o parque (Rio Sousa) para um descampado que viria a ser o parque de campismo do evento (pois o parque propriamente dito, a parte com algumas árvores, com o bar e com mesas seria o local para os concertos, os diversos workshops e palestras em que consistiram o HitchFest). Em vez de toros, que nos foram desaconselhados pelo próprio proprietário da serração a que nos dirigimos, este mesmo senhor disponibilizou-nos dois postes de luz inutilizados que tinha num terreno seu para servirem como vigas de betão armado sobre o leito do rio para, posteriormente, se executar um revestimento de madeira (através de paletes usadas) e fazer-se assim o passadiço. Como engenheiro civil de formação e estando dentro do espírito do festival, tinha de deixar aqui esta nota de como foi gratificante, notável e engenhoso ter ajudado a conceber (mesmo que só com uma pequena participação no plano) e ver ser montada aquela ponte, improvisada, mas com uma qualidade técnica enorme face às circunstâncias.
No que toca ao festival propriamente dito, que decorreu entre o dia 31 de Julho e 4 de Agosto, decorreram vários workshops, palestras e atividades, maioritariamente com vertente espiritual e também alguns com alguma vertente física. Como exemplos, eu participei de vários workshops de meditação e “partilha de energias” entre os vários participantes – um em que cada participante, em torno de um círculo que formámos, dizia os seus objetivos de participar no HitchFest colocando as mãos numa terrina com água que passou por todos para, no fim, ficar sendo a “nossa” água e depois, aos pares, passarmos essa água na cara de cada um, dando seguidamente um abraço. No que toca a workshops mais virados para a vertente física, eu participei num de capoeira e houve vários relacionados com dança. Em relação a palestras, sei que houve uma do movimento “Aterra” e outra do Extinction Rebelion, a que eu eu não assisti pois já sabia no que consistia e preferi fazer outras coisas. Com isto, de já haver apresentação do Extinction Rebelion e também por falta de espaço no horário do programa, a Ana Rita disse que eu não tinha de fazer uma apresentação da Climáximo. Foi uma pena, pois eu já tinha preparado uma, um powerpoint, mas pode sempre ficar guardado para outra ocasião que se proporcione.
Na parte da noite, houve sempre concertos, tal como no Camp-in-gas. A diferença é que, como este festival não estava direcionado para uma ação, houve sempre mais atividades a decorrerem, o que também incluiu, algumas vezes, grupos de música durante o próprio dia. Havendo tantas atividades durante o dia, algumas também ocorreram em simultâneo, nomeadamente, e uma ou outra vez (não sempre), um grupo de música estar a tocar ao mesmo tempo que havia uma palestra resultando numa certa interferência. Se tenho alguma falha a apontar no evento é só esta e nem considero muito relevante, pois foi só uma ou duas vezes e nem foi assim tão grande interferência nem durante muito tempo.
Houve um programa de voluntários, como eu já referi e do qual eu participei. Os voluntários foram nomeadamente para a cozinha comunitária, que forneceu as refeições diárias no festival, para o bar do festival e para a limpeza do recinto, a “eco-team”, da qual eu fiz parte. Nós, os voluntários, tivemos direito a refeições grátis a troco do trabalho prestado. Eu já era voluntário desde a altura da preparação do festival, semanas antes, e assim continuei durante o próprio festival. Foi muito gratificante, pois não só me senti dentro do espírito do próprio festival ao contribuir para o bom funcionamento deste, como os turnos me deixaram com tempo mais do que suficiente para aproveitar muitas das atividades e eventos que mais me interessaram no festival e também para aproveitar os prazeres naturais que aquele espaço, o Parque do Amial, proporciona, como tomar banho no rio e passear na natureza. Em resumo, foi uma experiência muito enriquecedora e gratificante, deixando-me com toda a vontade de participar na próxima edição, se assim se proporcionar.
Muito bem. Gostei do texto e fiquei com a impressão de que o festival foi muito interessante. Continuem.
Obrigado Mãe!