Um grupo de ativistas do Climáximo, incluindo 8 mulheres e 4 homens, desfilou hoje nas zonas de restauração do Atrium Saldanha e Saldanha Residence em Lisboa, empunhando cartazes e trajes simbólicos para lembrar o trabalho de cuidados, não remunerado e invisível, maioritariamente suportado pelas mulheres, e para apelar à participação na Greve Feminista Internacional de 8 março.
O grupo desfilou lentamente num cortejo silencioso, com trajes e frases pintadas em cartazes, representando diferentes papéis laborais das mulheres na sociedade, e contrastando a visibilidade e valorização do trabalho reprodutivo e de cuidados, muitas vezes não remunerado, face ao trabalho entendido como “produtivo”. O desfile foi encabeçado por um homem que se assumiu como representação do sucesso profissional, seguido de todas as mulheres cujo trabalho invisível suportou esse sucesso: a mãe, a avó, a esposa, que empregaram o tempo no cuidado das suas crianças, alimentação, limpeza e trabalho emocional no seu ambiente familiar, assim como as mulheres empregadas em trabalhos sub-remunerados de limpeza, cozinha e funções administrativas no seu local de trabalho. Segundo fontes da organização, a comitiva de mulheres a seguir o homem pretendeu simbolizar as diversas formas como o trabalho doméstico, reprodutivo e de cuidados desempenhado pelas mulheres contribui de forma válida para a sociedade sem ser assumido ou valorizado.
Segundo Ana Rita, ativista de 31 anos e uma das organizadoras desta ação, a imagem escolhida para esta ação, de uma fila de mulheres que permanecem detrás do homem independente e de sucesso, pretende refletir a forma como o sistema económico capitalista e patriarcal depende plenamente de uma economia de cuidados invisível.
A discrepância entre o contributo do trabalho feminino para a economia global, que representa anualmente mais de 9 biliões de dólares americanos em trabalho doméstico e de cuidados, e a deficiente e injusta distribuição de riqueza é um dos focos essenciais da luta feminista. Essa discrepância, que implica frequentemente jornadas de trabalho duplas ou triplas para as mulheres, levanta questões fundamentais sobre a valoração do trabalho nas sociedades ocidentais e as estruturas sociais que constringem os direitos reprodutivos, o desenvolvimento físico e a liberdade de metade da população. Por estas e outras razões, o Climáximo juntou-se à Rede 8 de Março no apelo à participação na Greve Feminista no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, e na manifestação confirmada até ao momento em 6 cidades (Viseu, Porto, Coimbra, Lisboa, Évora e Faro). Em Lisboa, a marcha terá início pelas 15h na Praça Luís de Camões, e no Porto sairá das Praça dos Poveiros às 19h30.
A organizadora desta ação deixa o apelo a todas as mulheres e homens: “Vamos cortar as amarras que nos cingem a papéis de género desiguais e injustos. Vamos cortar com um sistema onde o lucro está acima do bem estar e das necessidades humanas”, confirmando que “no dia 8 de março, sairemos à rua para relembrar que se as mulheres param, o mundo para.”
Parabéns aos meus e minhas colegas!