Em Setembro de 2019 declarámos, dentro do Climáximo, um estado de emergência climática. A linha principal, de dizer a verdade a nós próprias, manteve-se até hoje: desde então, reinventámos o nosso funcionamento, alterámos as nossas estratégias, e olhámos a realidade nos olhos.
Travar a crise climática é a nossa razão de ser. Cair no abismo do caos climático seria portanto falhanço nosso.
As mobilizações nos anos anteriores fizeram com que o status quo se flexibilizasse para responder a algumas das reivindicações, duma forma falsa e injusta, para criar a sensação de que tudo está sob controlo. Assim, estamos num caminho de 3 ºC de aquecimento em vez de 4 ºC que era no passado. Ambos os cenários significam passar o ponto sem retorno do caos climático e um colapso civilizacional.
A culpa é das empresas multinacionais e dos governos.
A razão é o sistema capitalista.
A responsabilidade de resolver o problema é nossa: “Mudar o sistema, não o clima”, por definição, não pode ser um pedido que fazemos a este ou outro governo. Assumimos a nossa missão social e política de alcançar justiça social e climática dentro dos prazos ditados pela ciência climática.
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Nos últimos meses, tivemos uma reflexão profunda sobre o nosso papel. Tudo estava em cima de mesa: a nossa comunicação, as nossas campanhas, o nosso funcionamento, as nossas estratégias, as nossas acções, as nossas formações, as nossas reuniões. Tudo. Porque com a crise climática, tudo está em cima da mesa.
Assim, chegámos a novos compromissos, que queremos partilhar contigo agora:
1) Concretizamos o nosso compromisso na causa duma forma clara e explícita: se tivermos duas acções seguidas, equiparáveis em termos de escalamento, com uma redução significativa de mobilização na anterior, comprometemos-nos a arriscar a própria existência do Climáximo na próxima, numa acção com alto nível de confronto.
2) Reestruturamos a nossa organização interna para aumentar o compromisso de cada uma de nós, para criar capacidade autónoma de cada organizadora no colectivo, e com isso construir ciclos de mobilização mais frequentes, mais fortes e mais diversos.
3) A nível nacional, reconhecendo que a mudança do sistema só pode acontecer com um movimento alargado e anti-sistémico, vamos ter um acompanhamento e participação mais regular, mais orgânica e mais disponível face aos outros colectivos e movimentos sociais nos próximos tempos.
4) Continuaremos a investir na resiliência política via infraestruturas organizativas. Depois de um ano de teste e experimentação, consolidamos agora as nossas equipas legal, de financiamento e de formação de formadoras, com planos de acção próprios e ambições próprias.
5) No nosso compromisso de contrariar e desmantelar dentro do nosso colectivo as dinâmicas socioculturais de hierarquia de poder e privilégio, estamos ainda longe de onde devíamos estar. Definimos novos processos internos para identificar, visibilizar, combater e mitigar o patriarcado enraizado em nós.
6) Só é possível combater a crise climática internacionalmente, por isso assumimos como tarefa nossa a construção e coesão de um movimento internacional pela justiça climática ecossocialista, articulado e programático.
7) Em três meses, vamos voltar a olhar para os nossos compromissos e prestar contas publicamente.
Estamos a escrever isto enquanto se está a bater os recordes de temperatura no Canadá, nos EUA, na Nova Zelândia e na Finlândia, enquanto Madagáscar passa fome por causa da seca prolongada. Não sabemos se poderemos travar esta crise. Sabemos que vamos tentar travá-la com toda a nossa força.
Olhamos à nossa volta. Olhamos à nossa frente.
Falta fazer tudo.
Agarra as nossas mãos. Vamos juntas.