Radar Climático – 5 de Janeiro

 Comissão Europeia quer classificar gás fóssil e nuclear como energias “verdes”

A Comissão Europeia propôs na última noite do ano classificar a energia nuclear e o gás fóssil como fontes de energia “sustentáveis” e “verdes”, abrindo-lhes a porta ao financiamento público sob a cobertura da redução dos gases com efeito de estufa. A proposta pretende abrir um novo ciclo de centrais nucleares até 2045 e de centrais a gás até 2030, mais uma bóia de salvação para a indústria nuclear francesa e para a indústria petrolífera em geral, financiadas com dinheiros públicos. Esta proposta recebeu fortes ataques por parte dos governos alemães, austríaco e luxemburguês, sendo apoiada pela França, República Checa e Hungria.

Projeções das alterações climáticas têm-se revelado conservadoras quanto à dimensão da catástrofe 

20 investigadores portugueses do Grupo de Processos Atmosféricos e Modelação do CESAM, Universidade de Aveiro fizeram um estudo comparativo dos cenários do IPCC para o período 2000-2020 com base nos relatórios de 2007 e 2014 da organização das Nações Unidas. Concluíram que há uma tendência conservadora das previsões, isto é, as temperaturas reais foram mais altas do que as previstas pelo IPCC, que são os cenários com mais emissões de gases com efeito de estufa. Isto significa que a tendência conservadora da ciência, classificada historicamente como alarmista por parte da indústria fóssil e de todos os governos conservadores, deixa-nos menos preparados para lidar com a crise climática, reduzindo os prazos e subvalorizando o carácter devastador da velocidade da crise climática.

Fundos para a descarbonização com porta aberta para Greenwashing

Há 715 milhões de euros disponibilizados para a descarbonização das indústrias em Portugal, ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). As regras para aceder a esse financiamento são, em suma, que a empresa não esteja em processo de insolvência, que não tenham feito desfalques em fundos europeus e cujas actividades “causem danos significativos a qualquer objectivo ambiental”, o que exclui à partida qualquer das grandes emissoras nacionais. Este financiamento destina-se à introdução de novos processos que visem teoricamente a descarbonização, incluindo a incorporação de novas matérias-primas, como biomassa, biogás e combustíveis derivados de resíduos, medidas de eficiência energética (já contempladas para financiamento público), assim como sistemas de monitorização e gestão de consumos, projetos de incorporação de energias renováveis (aumentando a disponibilidade energética) e armazenamento de energia, como hidrogénio. É portanto, um financiamento público à modernização tecnológica das empresas, com um corte opcional de emissões. Os quatro critérios principais são redução de consumos, maturidade da tecnologia, consolidação financeira do projecto (i.e., cofinanciamentos e contas em dia) e emissões associadas. As candidaturas serão avaliadas pelo IAPMEI (agência de competitividade e inovação), Autoridade de Gestão do Programa Operacional Temático Competitividade e Internacionalização, Agência Nacional de Inovação, Agência Portuguesa do Ambiente e Direção-Geral de Energia e Geologia. Vai ser um fartote de dinheiro para greenwashing.

Pessoas em situação de fome aumentaram em 2020 para 720 a 811 milhões 

O relatório The State of Food Security and Nutrition in the World 2021 revela que no ano de 2020 entre 720 e 811 milhões de pessoas passaram fome, um aumento de mais de 110-160 milhões em relação a 2019. A distribuição geográfica coloca a maior parte destas pessoas na Ásia (418 milhões), em África (282 milhões), Caraíbas e América Latina (60 milhões). Dietas saudáveis estão também a tornar-se cada vez mais caras, com 3 mil milhões de pessoas, as mais pobres, a não conseguirem ter uma dieta saudável em 2019. Os sistemas alimentares estão colocados sobre várias tensões, sendo a crise climática e os fenómenos climáticos extremos algumas das principais.

Chuvas no Brasil causam mortes e destruição

Chuvas fortes levaram a cheias na Bahia e em Minas Gerais nas últimas semanas, com mais de 60 mil desalojados e mais de 30 mortes, enquanto Jair Bolsonaro manteve as suas férias de praia em Santa Catarina, no sul do país.

Anomalias climáticas geram fogos de Inverno no Estado Americano do Colorado

Mil casas arderam no Colorado, que nesta altura do ano devia estar debaixo de neve. Na semana passada, temperaturas acima do normal, ventos de 150 a 170km/h e uma vegetação extremamente seca depois de um ano de seca extrema levaram aos maiores incêndios da história daquele Estado americano, onde se passa a acção ficcional da série South Park, na base das Rocky Mountains. Depois deste incêndios, 13 mil casas estão agora sem electricidade e aquecimento a gás, com a temperatura a descer bruscamente e os nevões a ameaçarem instalar-se esta semana.

Ordem para novo oleoduto nos Estados Unidos

Foi dada ordem para construir mais um oleoduto nos Estados Unidos entre a West Virginia e a Virgina, o Mountain Valley Pipeline, consolidando o papel de líder climático de Joe Biden.

Nova plataforma para exploração de gás chegou a Moçambique

Uma plataforma flutuante que será instalada na Bacia do Rovuma para exploração de gás chegou a Moçambique. É um navio gigante, com 432 metros de comprimento que vai estar ligado a seis poços e extrair o gás para uma fábrica a bordo que o vai arrefecer, liquidificando-o, de modo a ser transportado em cargueiros, abastecidos ali mesmo, lado a lado, em alto mar, e que depois levam o combustível até aos países de destino. A concessão daquela área é detida pela ExxonMobil, Eni e CNPC (China), que detém 70% de interesse participativo no contrato de concessão. A Galp, KOGAS (Coreia do Sul) e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (Moçambique) detêm cada uma participações de 10%

Sites da SIC e do Expresso hackeados

Os sites da Impresa (SIC, Expresso) foram hackeados por um grupo chamado “Lapsus”, que exige o pagamento de um resgate, operação chamada ramsomware, para devolver o controlo dos sites à empresa. É provavelmente o maior ataque informático que já aconteceu em Portugal. Este grupo já fez o mesmo com o ministério da Saúde no Brasil e com a empresa brasileira Embratel.

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