Por um clima de paz

Em cada crise, são os povos a pagar os custos. É assim com a crise climática, e está a ser também assim na crise política entre o polo imperialista hegemónico da NATO e o polo imperialista da Rússia.

Neste preciso momento, é o povo ucraniano que está a pagar. Se o conflito escalar mais, vão ser os povos russos e europeus também, causando efeitos globais.

Mas mesmo se esta crise política se limitasse “apenas” à invasão da Ucrânia, todas as guerras têm sempre impactos globais. O aparelho militar é uma grande fonte de emissões, uma vez que serve para matar as pessoas no imediato ao mesmo tempo que mata as futuras gerações. Para além disso, as centrais nucleares na Ucrânia precisam de manutenção regular – o que se torna impossível em qualquer instabilidade social ou política, e que de repente se transforma numa ameaça iminente existencial em paralelo à própria invasão.

Por isso, as causas, soluções, e intervenções urgentes da guerra na Ucrânia têm a ver com a justiça climática.

Não vamos repetir a atualidade (que está a desenvolver-se a cada hora) nem vamos fazer grandes análises gerais (que muitas organizações já estão a fazer). Vamos falar só sobre nós. Ou seja, o que nós podemos reivindicar e ganhar. O movimento pela justiça climática na Ucrânia e na Rússia dizem o que é para acontecer, e o movimento anti-capitalista nestes países é que vai dirigir as reivindicações. Nós vamos falar sobre o que nós pretendemos influenciar: Portugal, UE e NATO.


Construir um clima de paz

Agora:

Em 2018, o governo português anunciou que ia dedicar 2% do PIB para despesa militar até 2024. Pomos isto em perspetiva: um plano de transição justa que criaria 200 mil empregos públicos e atingiria a neutralidade carbónica em 2030 precisaria de 3% do PIB. O que é verdadeiramente urgente é deixar de alocar recursos para a destruição e a violência.

Em vez disto, Portugal está a preparar-se para mandar tropas para a região no âmbito da NATO. Esta decisão de investir no escalamento só serve para piorar a situação para todos os povos.

Logo a seguir:

A NATO continua a ser uma ameaça à paz em todas as zonas e em todos os casos em que intervém. O desmantelamento da NATO é um pré-requisito para haver paz no mundo. Portugal deve sair e criar pressão para que os restantes países europeus saiam também(*).

Por outro lado, é preciso construir laços de colaboração e solidariedade não com as empresas multinacionais sediadas nesse país ou noutro, mas sim com a sociedade civil e as populações. Só a solidariedade entre os povos pode criar um clima de paz (e não a solidariedade entre os políticos ou entre as empresas).


Proteger o clima, para a paz

Agora:

Esta invasão do Putin está a ser financiada pela União Europeia, como a Extinction Rebellion Ucrânia apontou em comunicado.

Em Portugal, 10% do gás fóssil vem da Rússia e 20% vem dos EUA. Como o gás fóssil faz 24% da energia primária, o controlo destes países na economia portuguesa acaba por ser bastante estrutural.

Por outro lado, na Alemanha, 60% do gás fóssil e 30% do petróleo vêm da Rússia. Assim, 25% da energia da Alemanha depende da Rússia.

Isto explica porque é que toda a gente fala de sanções contra a Rússia mas ninguém consegue implementar algo relevante.

Até agora, a União Europeia apostou na chamada “diversificação das fontes” dos combustíveis fósseis, o que só aumenta a dependência e interdependência global. Isto aplica-se tanto à União Europeia como a Portugal, que insiste em utilizar o Porto de Sines para gás fóssil.

Em Portugal, precisamos de um plano imediato de transição energética justa para Porto de Sines e para as centrais termoelétricas a gás. Assim, Portugal pode declarar publicamente que vai deixar de financiar a invasão da Ucrânia e ao mesmo tempo criar condições resilientes contra o aumento dos preços de energia.

Logo a seguir:

O objetivo de 100% energia renovável endógena não é para daqui a três décadas, como o governo quer. (Isto implicaria caos climático e mais guerras.) Nós precisamos dum plano para atingir isto até 2030 e sabemos que esse plano só pode ser realizado sob controlo público e democrático do sector de energia. 100% de energias renováveis é um plano antiguerra.

A crise climática não é um assunto ambiental. É um assunto sobre como as sociedades e as economias estão organizadas neste momento a nível global. A ação pela justiça climática é indissociável das crises sociais e políticas que vamos passar.


(*) correção feita a 3 de Março de 2022.

2 thoughts on “Por um clima de paz

  1. O texto deveria ser mais rigoroso, há vários erros factuais. A UE não pertence à NATO, há vários países da UE que estão fora da organização de defesa militar.
    Por no mesmo plano os países ocidentais, a NATO e a Rússia de 2022, é um erro crasso.
    É a Rússia que sistematicamente tem anexado e invadido nações soberanas, sem que haja qualquer razão válida.
    É Putin quem manda envenenar adversários políticos e é na Rússia que os movimentos cívicos estão proibidos. Na Rússia não há sequer a possibilidade de protestar contra as políticas ineficazes relativas às alterações climáticas…

  2. Olá João,

    Muito obrigado pelo comentário. Tens razão que na edição final algumas frases foram mal-formuladas até ao ponto de implicarem erros factuais. Esperamos que, apesar destes erros, o sentido político continue claro.

    Como dissemos no início do texto, o nosso objectivo com este texto não foi fazer uma análise política da situação. Optámos, humildemente, em focar-nos nos assuntos em que nós, o movimento pela justiça climática em Portugal, devemos intervir. Neste sentido, os dois blocos de exigências (a NATO e os combustíveis fósseis) estão no foco da nossa atenção colectiva.

    Estamos inspiradas pelos movimentos sociais progressistas na Rússia e na Ucrânia, e estamos a acompanhar as nossas organizações-irmãs sem falar em nome delas sobre os contextos delas.

    Abraços solidários,

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