Duas reflexões escritas por Beatriz e Tomás no seguimento do 7ª Encontro Nacional pela Justiça Climática. Tem como base a sessão “Exploração animal – um olhar sobre a (in)justiça social e climática“ e diversas conversas e debates que aconteceram ao longo do evento.
“Exploração animal – um olhar sobre a (in)justiça social e climática” foi dividida em 3 partes: a primeira foi apresentada pela ZERO e debruçou-se sobre o transporte marítimo animal; a segunda parte foi apresentada pela Constança Carvalho, psicóloga do ISPA, que nos falou sobre o impacto psicológico do trabalho em matadouros para as pessoas que lá trabalham, assim como para as pessoas que trabalham nos navios de transporte marítimo animal, falado na primeira parte e a última apresentação teve como tema “Comportamento e cognição animal”. Foi interessante a interseção de 3 temas que, à primeira vista, não parecem estar interligados, mas que acabam por se juntar neste local comum que é a luta por justiça climática.
Na primeira parte da sessão, foi-nos apresentado alguns dados, como o facto do transporte marítimo corresponder a 80% do comércio mundial e algumas desvantagens, como o impacto na saúde humana, a poluição atmosférica e o ruído, que provoca situações de stress e mudanças comportamentais em diversas espécies.
Na segunda parte, foi-nos falado do impacto que algumas tarefas exigidas por esta profissão têm nas pessoas que lá trabalham, o que é adivinhável, apesar de haver poucos estudos sobre este tema. Comparativamente a outras profissões com as mesmas condições geodemográficas, os trabalhadores não só possuem maior tendência a desenvolver ansiedade e depressão, como também para desenvolver outras características psicológicas/comportamentais, como perturbações de sono e baixa auto-estima.
Na terceira parte, percebemos como o estudo do comportamento dos animais é importante para compreendermos o impacto que ações que, podendo parecer pequenas para o ser humano, prejudicam o funcionamento de todo um ecossistema.
Toda esta informação, aparentemente simplesmente teórica, desde os números assustadores das emissões associadas ao transporte marítimo de animais até à percentagem de pessoas possivelmente afetadas psicologicamente por trabalharem nestes locais permitiram perceber como a prática do transporte de animais vivos afeta muito mais do que apenas os animais que estão a ser transportados e que há um longo caminho a percorrer nesta luta.
Durante a sessão foram apresentadas algumas propostas de soluções, ainda muito baseadas na ação individual, o que pode ajudar a mitigar o problema, mas as soluções estarão na ação coletiva, em conjunto com todo o movimento pela justiça climática. Como nas restantes sessões, e ao longo de todo o Encontro, foi importante conversar sobre os problemas, para que da informação possamos partir para a ação coletiva e juntas apagarmos o fogo da nossa casa.
Beatriz Rodrigues
Uma sessão bastante interessante composta por três apresentações:
- quantificação do impacto ambiental do transporte marítimo animais vivos
- impacto social e psicológico em trabalhadores de matadouros e navios de transporte de animais vivos
- comportamento e cognição animal
Pessoalmente achei muito relevantes as duas primeiras apresentações.
Na primeira apresentação foi claro que as emissões de gases poluentes por parte dos navios que transportam animais vivos, no caso específico da rota Setúbal (Portugal) – Haifa (Israel), são significativas. Para se ter uma noção real, além dos valores serem apresentados em toneladas emitidas, eles foram, também, apresentados de um modo comparativo, sendo que apenas uma viagem de ida de um navio de transporte de animais vivos entre Setúbal e Haifa polui o equivalente a, aproximadamente, 35000 viagens de carro entre Lisboa e Porto. Este enorme impacto ambiental faz aumentar a pressão para que o transporte de animais vivos termine, já por si só altamente questionável, em termos éticos.
Na segunda apresentação foi apresentada de forma clara a violência que é trabalhar em matadouros, sendo esta evidência corroborada por estudo científicos. Em matadouros, está comprovado que os trabalhadores de matadouros têm mais propensão para o suicídio do que trabalhadores de outras áreas. Além disto, estes trabalhadores têm mais propensão para o consumo de álcool e drogas. Em navios de transportes de animais vivos, os estudos científicos ainda não conseguiram concluir que os trabalhadores são afetados psicologicamente de forma negativa porque esses estudos ainda não foram feitos, mas tudo leva a crer que sim.
Estas duas apresentações questionaram de forma bastante sólida a viabilidade, ética e propósito do transporte de animais vivos e do seu processo de abate.
Por último, a apresentação de comportamento e cognição animal não estava enquadrada com a temática da justiça climática. Por isso, apanhou a audiência um pouco desprevenida. Focou-se bastante nas estratégias de aprendizagem e cooperação que as diferentes espécies desenvolvem para sobreviverem, mas as questões sociais associadas à agropecuária e criação de animais não foram abordadas. O meu destaque vai para uma série de vídeos bastante elucidativos sobre a capacidade dos zangões aprenderem a ter o comportamento correcto para receberem recompensas alimentares.
Tomás Hipólito