Mais uma cimeira da ONU falhada, desta vez em Lisboa
A 2ª Conferência do Oceano da ONU aconteceu na semana passada, em Lisboa. Teve plenários vazios. Teve sessões dedicadas às empresas, como no caso do enviado especial dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, que foi direto: “Há uma grande economia à nossa espera”, dirigindo-se imediatamente aos investidores na sala: “Não estão sozinhos, terão um apoio sem precedentes”.
Enquanto isso, as ativistas da Greenpeace foram agredidas pela PSP por protestar à frente da conferência. Ao longo da semana dezenas de ações aconteceram, inclusive a Marcha Azul pelo Clima que juntou centenas de pessoas no Parque das Nações.
O resultado foi uma declaração pública de falhanço e uma lista de compromissos que deviam ter acontecido na conferência mas que não aconteceram.
Telenovela do Aeroporto
Presenciamos um momento confuso relativo ao plano do novo aeroporto de Lisboa. O Ministro das Infraestruturas Pedro Nunes Santos declarou guerra ao planeta propondo mais dois aeroportos (Montijo e Alcochete). O Primeiro-Ministro António Costa opôs-se ao Ministro, mas por razões que nada tem a ver com o clima. O Ministro demitiu-se? Não. Manteve a sua posição e quer repensar. Em qualquer dos casos, o governo está a preparar-se para saltar por cima das populações locais quando é para avançar com megaprojetos.
O Norte Global continua a falhar no clima. O Sul Global lidera.
Foi uma semana simbólica. No Norte Global:
– O Tribunal Supremo dos Estados Unidos da América tornou efetiva a proibição da Agência Nacional do Ambiente de impor a redução de emissão de gases com efeito de estufa.
– Também nos Estados Unidos, existem 25 novos projetos de terminais de gás fóssil liquefeito, continuando a alimentar assim as indústrias de fracking e o caos climático.
– Com isso, a OPEP+ confirmou aumento da produção de petróleo em 648.000 barris por dia em Agosto
– O melhor que se conseguiu no Norte Global nesta semana foi a declaração do estado de emergência em cinco regiões Italianas devido à seca extrema.
– Na Austrália, autoridades tentam conter protestos de ativistas climáticos.
No entanto, no Sul Global houve duas vitórias.
– No Equador, o movimento social liderado pelo movimento indígena chegou a um acordo com o governo do Presidente Guillermo Lasso após três semanas de protestos sobre o aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis no país. O acordo inclui uma redução nos custos de combustível, limites à extração de petróleo em terras indígenas, e a proibição da exploração mineira em áreas protegidas, parques nacionais e fontes de água.
– No Brasil, o Tribunal Supremo Federal do Brasil interpretou o Acordo de Paris como um acordo internacional de direitos humanos. Isto implica uma superioridade do Acordo de Paris à lei nacional e pode representar um precedente para futuros casos.
Secas na Península Ibérica deverão ser as piores dos últimos 1.200 anos
De acordo com um estudo baseado na atividade do anticiclone dos Açores – que dita a precipitação na Península -, o presente ciclo de secas deverá ser o pior dos últimos 1.200 anos. Os níveis de alta pressão que costumavam acontecer a cada 10 anos estão a acontecer a cada quatro, aumentando assim drasticamente os períodos de seca.
Isto está a ter consequências imediatas na capacidade de redução de emissões, com a produção hidroelétrica em mínimos históricos. Dada a fraca precipitação dos últimos meses, a produção de energia a partir da água dos rios foi menos de um quarto da média histórica. Isto poderá implicar que o consumo elétrico em Portugal dependerá ainda mais de combustíveis fósseis, especialmente do gás natural.