No passado dia 4 de outubro, a RWE (a maior empresa energética da Alemanha) anunciou que vai antecipar a eliminação progressiva do seu uso de carvão, em 8 anos, estando pronta para cessar a produção de eletricidade através de lenhite em 2030. Este anúncio faz parte de um acordo alcançado com o governo, que tinha como meta anterior a cessação do uso de carvão para 20381, e foi visto como um motivo de celebração para alguns. Contudo, este veio acompanhado de más notícias que comprometem as metas estabelecidas no acordo de Paris e a capacidade da Alemanha, que é um dos países com maior responsabilidade história pela crise climática, de não ultrapassar o seu orçamento de carbono.
Isto porque, ao mesmo tempo que aconteceu este anúncio, a RWE disse que irá aumentar temporariamente o uso de lenhite e carvão para produção de energia em centrais elétricas, justificando esta decisão com a atual crise energética. Para além disso, e ainda mais grave, a RWE segue para a frente com os planos de destruição da vila de Lützerath, para expandir a sua área de exploração de carvão. “Embora a RWE tenha sido obrigada a admitir que 2030 é de facto a data final para o carvão na Alemanha, conseguiu convencer o governo alemão a aprovar o seu plano sem sentido de demolição da aldeia de Lützerath, para poder aceder a carvão que não poderá ser queimado se a Alemanha quiser cumprir os seus compromissos climáticos. Também quer queimar gás fóssil ainda mais caro, importado, mostrando que no fundo ainda é a mesma velha RWE”, disse Wiebke Witt, da Campanha Europe Beyond Coal (Europa para além do Carvão). 2
Lützerath é uma vila nas imediações de uma área abismal de minas de carvão, na região da Renânia, numa zona onde a floresta tem sido convertida a minas abertas de exploração fóssil. Atualmente, o que sobra da aldeia está ocupado por ativistas que resistem à sua destruição.
A aldeia, os que a protejam e à floresta a seu redor estão atualmente sobre grande ameaça, visto que o tribunal decidiu a favor da REW, regendo legal a entrada das bulldozers. 3 Isto levará à extração de mais 290 milhões de toneladas de carvão. Isto significa que a Alemanha, historicamente uma das maiores responsáveis pela crise climática, descarta o seu compromisso assinado no Acordo de Paris para manter o aumento médio das temperaturas globais em 1.5ºC.
A RWE, similarmente às restantes empresas fósseis europeias, está entre uma das empresas beneficiárias dos Fundos de Transição Justa Europeu, enquanto sendo uma empresa que tem lucrado massivamente com a destruição do nosso planeta e travado a seu benefício a crise climática.
Estamos em solidariedade com as ativistas que resistem à destruição de Lützerath e à expansão da produção fóssil em todo o mundo. Condenamos a expansão da atividade fóssil da RWE, da qual o governo alemão é cúmplice, e a consequente destruição de terrenos agrícolas e florestais. Estas são incompatíveis com a ciência climática, contribuindo para acentuar o caos climático, e atrasando uma transição energética justa.
1 -https://www.reuters.com/business/sustainable-business/rwe-aims-phase-out-coal-by-2030-2022-10-04/
2-https://beyond-coal.eu/2022/10/04/rwe-concedes-2030-coal-exit-but-still-plans-to-destroy-villages-and-to-invest-in-fossil-fuel-projects/
3-https://www.euractiv.com/section/climate-environment/news/lutzerath-how-the-government-broke-german-climate-activists-hearts/