França: os Levantamentos da Terra responde à guerra de água lançada pelo governo, com uma manifestação de 30 mil pessoas, o governo mobiliza 3 mil polícias: 200 feridas, 2 em condição crítica.

O movimento Les Soulèvements de la Terre (Os Levantamentos da Terra) convocou uma manifestação contra as megabacias nos dia 25 e 26 de março. +++ Trinta mil manifestantes foram atacadas por três mil polícias. A organização reporta 200 feridas e 2 pessoas em condição crítica. +++ O Ministro da Administração Interna francês anunciou intenção de “dissolver” o movimento.

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Contexto local

O governo francês anunciou construção de mega-bacias, grandes piscinas a céu aberto, para acumulação de água para irrigação. Estas mega-bacias funcionarão principalmente como uma ferramenta de privatização da água pela indústria agrícola, não só capturando as águas de chuva que alimentam os aquíferos, mas também bombando água dos aquíferos superficiais (já bastante secos), e assim privando os pequenos agricultores e o próprio solo da água que é essencial para a sua sobrevivência.

Estes mega-projetos – que podem chegar a ocupar quase 20 hectares – foram considerados de uma “guerra de água” contra os ecossistemas e as populações locais.

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Histórico do movimento

Em 2021, pessoas de várias partes de França envolvidas em lutas locais juntaram-se e criaram a campanha Les Soulèvements de la Terre (Os Levantamentos da Terra) para organizar “temporadas” de ações. Com o apoio de mais de 100 organizações, inclusive sindicatos e associações, as ações estão a ser organizadas duma forma descentralizada, baseadas em agendas regionais.

Desde 2021, Les Soulèvements de la Terre já organizaram quatro temporadas (duas por ano) com um total de oito ações, cada uma com a participação de milhares de pessoas. Todas as ações são apresentadas como atos de defesa do território contra os projetos capitalistas extrativistas.

A campanha teve uma ampla visibilidade pública, por um lado por ter tido o apoio e participação de mais de 100 organizações, inclusive sindicatos e associações, como Confédération paysanne, Extinction Rebellion e Youth for Climate; e por outro lado por incluírem um elemento de “desarmamento” das armas de destruição do capitalismo durante as manifestações.

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As últimas manifestações

A primeira ação da 5ª temporada teve lugar em Sainte-Soline no Oeste de França nos dias 25 e 26 de março.

Um total de 30 mil manifestantes chegaram à zona de construção das mega-bacias, onde foram recebidos por violência policial sem precedentes. O Estado mobilizou 3200 polícias, que atiraram mais de 4 mil bombas de gás lacrimogéneo e utilizaram balas de borracha. Um total de 200 manifestantes ficaram feridas. Duas manifestantes entraram em coma, das quais uma só saiu depois de uma semana e outra continua entre vida e morte. Durante a manifestação, a polícia impediu ativamente a chegada das ambulâncias.

Em solidariedade com o movimento, no dia 30 de março foram organizadas concentrações em frente às câmaras municipais em 112 cidades.

Como no caso das manifestações contra a lei de reforma, o governo respondeu por escalamento de confrontação em vez de ouvir a população. O Ministro da Administração Interna declarou a sua intenção de “dissolver” o movimento Les Soulèvements de la Terre. O movimento respondeu a dizer que nestas condições de desgoverno, a única entidade por dissolver seria o governo francês. Foi também lançado uma carta de apoio “Nós somos Les Soulèvements de la Terre” que conta com mais de 50 mil assinaturas e inclui também importantes figuras internacionais.

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Próximas ações

A campanha Les Soulèvements de la Terre é descentralizada, baseada nas lutas locais. Nesse sentido, a intenção do Ministro só pode ser interpretada como uma declaração de guerra à sociedade francesa inteira.

Na quinta temporada haverá mais duas ações, ambas contra novas auto-estradas, em Toulouse em abril e em Rouen em maio.

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O Climáximo, coletivo pela justiça climática, está solidário com o movimento Les Soulèvements de la Terre. A resposta do capitalismo à crise climática tem sido mais destruição e mais extração, enquanto as emissões continuam a aumentar. O que está no raiz do problema não faz parte da solução. Somos a natureza em auto-defesa.

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Mais informações

Les Soulèvements de la Terre https://lessoulevementsdelaterre.org/

resumo da última ação – https://lessoulevementsdelaterre.org/blog/30-000-personnes-manifestent-a-sainte-soline-malgre-la-brutalite-policiere

resposta à intenção de dissolução – https://lessoulevementsdelaterre.org/blog/reaction-a-lannonce-de-la-procedure-de-dissolution-des-soulevements-de-la-terre

carta de apoio – https://lessoulevementsdelaterre.org/blog/nous-sommes-les-soulevements-de-la-terre

Vídeo com o contexto local e as manifestações – The Battle for the Mega Pools : Who Wants the Water War? [20 minutos] – https://www.youtube.com/watch?v=LMJK2YZEa4M

Notícia na Euronews: https://www.euronews.com/green/2023/03/27/violent-clashes-between-police-and-protesters-at-french-anti-reservoir-protest

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