Climáximo no Gastivists Gathering 2023 – Hungria

Entre os dias 21 e 25 de Junho, o Climáximo esteve no encontro organizado por Gastivists na Hungria, cujo objectivo principal foi conectar ativistas de diferentes contextos Europeus na luta contra o gás fóssil. Estiveram presentes cerca de 50 pessoas vindas da Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Croácia, Espanha, Grécia, Holanda, Itália, Macedónia, Noruega, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suíça, Roménia.

Neste sentido, por um lado, as sessões permitiram-nos perceber as convergências e divergências das nossas lutas contra o gás fóssil, que estão intimamente ligadas às diferenças contextuais entre os países do leste da Europa e Balcãs versus centro da Europa, questões geopolíticas e diferenças entre os níveis de repressão de cada país. Por outro, permitiram-nos perceber como é que poderíamos fortalecer a nossa solidariedade além fronteiras para que o sistema alimentado a gás, seja travado em qualquer lado.

O encontro foi aberto a qualquer nível de experiência e conhecimento, por isso, as sessões permitiram discussões desde conhecimentos básico sobre gás fóssil ou ferramentas de mobilização através de Artivismo e “storytelling” aos complexos projetos planeados ao longo da Europa, como o caso da EastMed Pipeline.

EastMed Pipeline seria um dos mais longos gasodutos na Europa e o mais profundo do mundo. Os números falam por si: 1,900km de comprimento, cujos 1,300 estariam em mar com uma profundidade máximo de 3,544 km. Este gasoduto passaria por Israel, Chipre, Grécia mas com planos de adicionar mais 216 km para fazer ligação a Itália e, consequentemente, ao centro da Europa. Ao abrir portas para explorar e perfurar a maior área do mundo, na maioria inexplorada, de reservas de gás em águas profundas dar-se-ia luz verde a uma rota de comércio de gás do Mediterrâneo Oriental e a novas plantas de GNL ao longo da região para que o gás chegasse à Europa central.

Com os exemplos dos planos de expansão na Europa na corrida pelo pódio ao hub de gás, onde este é a principal arma política na batalha pela aquisição de poder de acordo com as regras capitalistas, a realidade é clara: é preciso parar gás aqui e em qualquer lado.

Enquanto Climáximo, fizemos uma sessão que contou com cerca de 25 pessoas, onde desafiámos os grupos a pensar sobre quais as estratégias que o Movimento pela Justiça Climática tem para oferecer para parar gás em qualquer parte. Através da nossa sessão, mostramos que a nossa estratégia deve estar ancorada nos prazos ditados pela ciência climática, sendo que, a estratégia do movimento, neste momento, nos levaria ao colapso apenas alguns anos mais tarde relativamente à dos governos e empresas. Como é que eles se atrevem? Mas, acima de tudo, como é que nós nos atrevemos?

A ambição do movimento deve ser a de não deixar que sejam os capitalistas a contar a história do que é possível ou não, mas a assumir essa responsabilidade e construir planos de acordo com a mudança que precisamos. Temos de nos atrever a ganhar. Mas isto deixa-nos com duas tarefas urgentes:

  • Qual é então uma proposta razoável?
  • Qual é então uma estratégia razoável?

Para atingirmos as mudanças que precisamos, é preciso fazermos uma mudança na overton window – representa o espectro do que é considerado aceitável pela sociedade/opinião pública. Neste caso, é preciso que gás seja entendido como o principal opositor de uma mudança sistémica e, ao mesmo tempo, o vilão responsável por alimentar a crise climática e a crise de custo de vida simultaneamente. Para fazer essa mudança, o movimento deve amplificar as vozes mais radicais, puxando o limite daquilo que é considerado aceitável na direcção desejada. Neste sentido, apresentámos duas das nossas propostas: Last winter of Gas e Their Time to Pay.

A primeira como uma narrativa a ser adoptada a nível internacional pelos Movimentos Sociais e por Justiça Climática que serviria de motor à ação necessária contra o restabelecimento da indústria de gás fóssil. Se a indústria pretende garantir gás até 2050 e, dessa forma, comandar a aumento do custo de vida na sociedade, o controlo de preços de sectores essenciais e o colapso climático, o movimento diz até 2024.

A segunda proposta, será um primeiro passo necessário para que 2024 seja o último Inverno de gás, uma vez que apenas um movimento de movimentos pode desafiar o sistema. Para o efeito, há a necessidade de um momento concreto para unir os movimentos sociais e por justiça climática e evidenciar o cruzamento das crises. A proposta é que esse momento aconteça a 30 de Setembro, com Marchas por toda a Europa com reivindicações comuns mas flexíveis a cada contexto.

Estas propostas para desafiar o sistema, foram discutidas pelos grupos de diferentes países, sendo que na sua maioria, houve interesse em fazer parte delas. Vamos continuar a atrevermo-nos a puxar o travão de emergência do gás fóssil e a criar o movimento necessário para ganhar.

 

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