Sabemos que é errado vender e comprar pessoas. Mas até à abolição formal da escravatura, foi prática comum e às claras na Europa. Sabemos que é errado exterminar comunidades humanas por motivos etnico-religiosos. Mas sob o regime nazi, o povo considerou legítimo o extermínio em massa de judeus e outras minorias. Sabemos que é errado o extermínio de espécies e a alteração do equilíbrio climático do planeta. Mas deixamos estas práticas decorrerem todos os dias com normalidade.
Com o tempo, alterações legais vieram institucionalizar, e com o tempo cristalizar nas mentalidades, a proibição de atos cujo choque e horror é hoje parte do senso comum. Numa sessão sobre “Direitos da Natureza” aprendi que existe um movimento a trabalhar para uma mudança fundamental do enquadramento jurídico das relações com a Natureza, como extensão da Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Não se trata de nos tornarmos todos veganos, ou de proteger animais de maus tratos. Mais claramente, não se trata de proteger o “indivíduo”: a árvore, a semente, o animal. O foco é antes nos “ecossistemas” e a capacidade de se regenerarem e continuarem a existir no futuro: trata-se novamente de proibir o extermínio. Mas aqui, a lei ainda não reflete o senso comum da justiça.
A M, 10 de dezembro