Depois de várias greves climáticas deslocalizadas em vários países do mundo, com impactos crescentes e notórios ao longo dos últimos meses, hoje pelo menos dois milhões de pessoas em todo o globo uniram-se em torno da mesma causa: foi o maior protesto a nível global pela justiça climática que alguma vez aconteceu.
Neste momento estão ainda por apurar os números de toda a América do Norte e América Latina, mas sabe-se que, por exemplo, Itália conseguiu agregar um milhão de pessoas nas ruas, em manifestações absolutamente massivas. Destacam-se também os números de aderentes à greve na Alemanha (300.000 pessoas), Austrália (150.000 pessoas) e em vários países do centro da Europa.
As reivindicações são mais do que justas, baseadas na ciência e intolerantes a demagogias. A ambição não é utópica: mudar o destino da Humanidade. Para isto, não basta continuar a assinar acordos que não são cumpridos e que garantem o caos climático irreversível. Perante a maior ameaça global, a solução não passa pelas respostas do capitalismo verde.
Durante as últimas décadas, poderosos movimentos mais localizados confrontaram-se com o poderio avassalador da destruição climática: os movimentos indígenas em África contra o extractivismo e a exploração petrolífera (pontificando os Ogoni na Nigéria contra a Shell), as comunidades nativas na América a Norte (como Standing Rock) e a Sul contra exploração de petróleo, gás, contra enormes infraestruturas como o KeyStoneXL ou os campos de destruição das areias betuminosas e do fracking, os movimentos contra o carvão na Alemanha ou na Austrália, os povos das ilhas do Pacífico, as lutas no subcontinente indiano, as comunidades que foram procurando resiliência e cooperação em oposição à barbárie da competição. Por todo mundo, as raízes foram-se criando, as redes foram-se fortalecendo, as lutas foram-se intercruzando. E chegamos a 15 de março de 2019.
As alterações climáticas são a maior ameaça global que a Humanidade alguma vez enfrentou e que transformará por completo a vida como a conhecemos se não se reverter urgentemente a ambição capitalista do crescimento infinito do lucro. O renascido movimento estudantil parece determinado a não desistir até serem cumpridas as suas reivindicações: medidas políticas concretas e urgentes para reduzir as emissões de gases de efeito de estufa a níveis que permitam limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC em relação a níveis pré-industriais. Isto implica parar a exploração de combustíveis fósseis, fazer uma transição energética justa para fontes de energia renováveis e limpas na próxima década, revolucionar os modos de produção, distribuição e consumo. Como nos informa o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, isso significa no mínimo cortar as emissões globais de gases com efeito de estufa em 50% até 2030. Isso significa mudar de vez este sistema. Diferentes gerações juntam-se nesta luta e hoje começa um novo período, em que é preciso avançar rapidamente. Para ganhar a luta, vai ser necessário romper com o sistema. E a luta vai ser ganha.