Feedback do movimento pela justiça climática em Portugal – Sinan Eden

Esta é uma avaliação pessoal do ponto em que nos encontramos como movimento pela justiça climática em relação a um par de anos atrás. Grande parte da minha análise foca-se em Portugal, mas uma parte é aplicável pelo menos à Europa. (Estive activo em várias reuniões estratégicas em toda a Europa. Vou misturar os nomes de todas as organizações, de Greves Estudantis ao Extinction Rebellion, de grupos de base previamente existentes (como Ende Gelände, Code Rood ou Climáximo) a algumas ONGs (como FoE and 350.org): a menos que haja uma necessidade específica de as distinguir. O meu entendimento da crise climática é que em dez anos todas estas organizações devem desaparecer (vitoriosamente); por isso não estou interessado em marcas ao longo deste texto de opinião.


Estamos a vencer?

Não.

As emissões em Portugal nem sequer estão a decrescer. Não há um programa político para o clima que possa evitar a catástrofe climática.

Na Europa, a comissão do Carvão do Governo Alemão institucionalizou abertamente o negacionismo climático ao evitar a eliminação gradual do carvão até que a própria Merkel parta. A União Europeia fala ainda em aumento das energias renováveis em vez de decréscimo das infraestruturas de energia de combustíveis fósseis.

Estamos perto de vencer?

Não.

O movimento da greve estudantil em Portugal pôs 20 000 jovens nas ruas. Isto foi dez vezes maior que as mobilizações do Rise for Climate em Setembro de 2018. A curva de participação para mobilizações climáticas tem sido geométrica, por isso há verdadeira esperança, mas devemos fazer um balanço da realidade baseado no que é necessário em termos absolutos, não em termos relativos. Segundo o por demais referido estudo sobre a necessidade de mobilizar 3.5% da população para uma mudança social radical, precisaríamos de 350 000 pessoas nas ruas de Portugal, o que significaria que completámos apenas 6% da nossa missão.

Os números são ligeiramente melhores em alguns países europeus como a Bélgica, mas muito piores em países-chave como o Reino Unido e a Alemanha.

Estamos mais perto de vencer?

Nunca estivemos tão perto de perder e nunca estivemos tão perto de vencer.

Todo o status quo está horrorizado com as recentes mobilizações pelo clima. Apesar dos mais sujos ataques pessoais, parecemos continuar a ganhar legitimidade social. A dinâmica da mobilização desde 2015 tem sido prometedora. Se conseguirmos manter este momentum, parece realmente possível que consigamos vencer totalmente, antes de tudo perder.

Como podemos manter o momentum?

Pela primeira vez, tem havido esforços a nível europeu para disrupção contínua e coordenada dentro da plataforma By 2020 We Rise Up, que terá a sua primeira vaga de mobilizações durante Setembro e Outubro.

Em Portugal, as Greves Estudantis e a Semana de Rebelião em Abril criaram dúzias de novos líderes do movimento. No Acampamento de acção Camp-in-Gás, mais de uma centena de activistas foram treinados para a desobediência civil em massa. Vamos agora testar-nos nas mobilizações de Setembro e Outubro.

O que é que está a faltar?

Primeiro, não temos uma estratégia orquestrada que ligue linhas de frente (como os projectos de exploração de gás no Centro de Portugal, novos terminais de gás natural liquefeito em Sines, o novo aeroporto do Montijo) e mais amplas reivindicações políticas climáticas (como neutralidade de carbono ou a campanha de Empregos para o Clima). Todos estes grupos parecem concordar, em termos gerais, com as exigências uns dos outros e demonstram uma forte solidariedade. Contudo, planos de acção não são projectados colectivamente de forma a garantir mecanismos de feedback estratégicos.

Segundo, falhamos em alcançar as necessidades de capacitação do movimento. Embora tenhamos feito um bom trabalho na construção de confiança dentro do movimento português (um completo desastre em muitos outros países europeus, com conflitos abertos ou implícitos entre grupos), falhamos em conseguir facilitar clareza ideológica e pensamento estratégico para os recém-chegados.

Uma proposta para um plano de acção a curto prazo

Todos os planos sólidos podem ser, no máximo, a médio-prazo durante uma crise climática. Ou teremos uma explosão de movimentos sociais que fará o impossível provável, que surpreenderá mesmo os mais optimistas de entre nós e que mudará tudo; ou, os impactos acelerados da crise climática surpreenderão mesmo os mais pessimistas de entre nós e mudarão tudo. Não há caminho social linear daqui em diante, daí a previsibilidade reduzida, e daí que apenas planeamento de curto prazo (com uma visão de longo prazo) seja razoável.

0) Capacidade de reserva

Pôr de reserva 30% da capacidade organizacional. (Ver passo 5)

1) Semana para o Clima: 20-27 de Setembro

Introduzir a desobediência civil. Treinar activistas para a acção directa e pô-los a todos nas ruas, em grupos de afinidade, para acções de aquecimento. Desafiar todos os activistas a sair das suas zonas de conforto e a confrontar a crise.

2) Greve climática: 27 de Setembro

Alargar o movimento. Trazer sindicatos e ONGs, como em anteriores marchas climáticas. Mas também criar um espaço para conversação com recém-chegados, pessoas sentadas em cima do muro e cépticos: transmitir a mensagem de que a mobilização social funciona.

3) Semana da Rebelião Regional: de 27 de Setembro em diante

Normalizar a desobediência civil. Organizar acções de massas em locais-chave, criar um espaço seguro e trazer todos os que estão disponíveis. Ensaiar uma real e permanente disrupção na sua região.

4) Semana da Rebelião global: De 7 de Outubro em diante

Disrupção sistémica massiva. Mobilizar activistas em cidades capitais chave para bloqueios urbanos. Contar uma história do poder do Povo. Garantir que os grevistas climáticos a vejam e garantir que não os desiludem.

5) Recrutar e treinar: Outubro/Novembro

Mobilizar a sua capacidade de reserva (Ver passo 0) para organizar treino de activistas em diferentes níveis: Escolas de activismo climático para recém-chegados, estratégias de treinos para os menos experientes, e partilha de competências para todos. Durante este período, garantir que as equipas de mobilização descansam.

Terminar com uma mobilização de baixa logística em Dezembro durante a COP-25 no Chile.

6) Planear a segunda vaga: Dezembro/Janeiro

Consolidar as suas capacidades. Ter assembleias abertas bem como reuniões baseadas na construção de confiança entre activistas. Aprender com a primeira vaga. Planear a mudança de sistema. O Climáximo tem organizado um Encontro Nacional de Justiça Climática anual, que pode ser transformado num espaço para delinear estratégias.

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