Mais de mil pessoas bloqueiam a zona Nuevos Ministerios em Madrid, incluindo uma comitiva portuguesa
7/10/2019
-
Desde o início do dia que centenas de activistas, incluindo vários de Portugal, ocuparam a zona de Nuevos Ministerios em Madrid.
-
É uma nova onda massiva de mobilização civil em Espanha e no resto do mundo, em resposta à inacção dos governos face à emergência climática e social
-
Resistir e organizar-se de maneira não-violenta para defender a vida é um dever cívico contra a ameaça civilizacional
-
A plataforma 2020 Rebelión por el Clima 1 e o movimento Extinction Rebellion Spain 2, assim como a coligação internacional By 2020 We Rise Up, pedem apoio para as suas acções
-
Este é um compromisso com a democracia e com a protecção de um bem comum essencial: o direito à vida das gerações actuais e futuras.
7 de Outubro de 2019, Madrid – Uma onda de mobilização de cidadãos percorre novamente o planeta: em cidades como Madrid, Londres, Buenos Aires, Nova York, Auckland, Paris, Berlim, Praga ou Melbourne a sociedade civil está a sair às ruas para exigir uma mudança decisiva face à situação de emergência ecológica. Reclamar a democracia para a Terra é dizer que é necessária a defesa urgente dos nossos bens comuns, necessários para a vida.
Em linha com esta onda de mobilização social, centenas de pessoas saíram esta manhã às ruas de Madrid para se revoltarem contra a inacção climática dos governos. Desde as 9 horas, cerca de mil activistas ocuparam a zona de Nuevos Ministerios no centro de Madrid. Existem duas frentes de acção. Por um lado, várias centenas de activistas ocuparam um ponte na Rua Joaquín Costa que se junta ao Paseo de la Castellana, perto de Nuevos Ministerios. Muito perto dali, outras centenas de activistas improvisaram uma acampada à frente do Ministério para a Transição Energética.
FOTOS BREVEMENTE DISPONÍVEIS AQUI
VÍDEO: https://www.facebook.com/esXrebellion/videos/977418242593377
Durante este ano surgiram diferentes expressões de activismo climático por todo o mundo, desde protestos em massa a acções directas e greves climáticas estudantis e globais. Estas mobilizações internacionais tiveram um papel chave para a aprovação das declarações de emergência climática por governos de países como a Irlanda, Reino Unido ou França. Contribuíram também para uma tomada de consciência mundial nunca antes vista sobre a gravidade da situação ambiental do planeta.
Precisamos de todas as soluções e todas de uma vez.
Face ao colapso para o qual a comunidade científica nos tem vindo a alertar há décadas, são necessárias medidas imediatas antes de passarmos pontos de não retorno. Cada vez mais, as populações de todo o mundo estão a reclamar de forma democrática nas ruas e nas praças, para que se passe das declarações à acção. Foi assim em Lisboa na semana passada e é também este o lema que vai na faixa principal exibida hoje pelos activistas em Madrid.
O relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC ) alertou em Outubro de 2018 para a a urgência da realização de acções drásticas para reduzir de maneira imediata as emissões, de modo a cortar 50% das emissões globais até 2030, se queremos manter o aumento abaixo de 1.5ºC face à temperatura pré-revolução industrial. Um ano depois, as medidas para esta transição ecosocial estão muito longe de serem concretizadas.
Defender os bens comuns para todas e todos
Esta manifestação pacífica pretende levar Espanha a fazer as alterações necessárias que são reclamadas por toda a sociedade, de uma maneira intergeneracional, apartidária e diversa.
As acções apoiadas pelo Extinction Rebellion e pelo 2020 Rebelión por el Clima, como a de 7 de Outubro, são criadas com um claro carácter tanto reivindicativo como festivo e fundamentalmente não violento. Pretende-se usar a rua como um espaço público de excelência para se exercer a liberdade de expressão e pela luta na defesa do futuro do planeta. Com estes gestos pretende-se uma chamada de atenção ao resto da cidadania para que se una e participe na defesa democrática dos bens comuns como os ecossistemas e o meio ambiente.
Extinction Rebellion Spain e 2020 Rebelión por el Clima consideram que o mecanismo de mudança mais eficaz é o movimento civil através de uma ampla onda de mobilização colectiva, pacífica e em defesa do direito da vida de todos.
Esta aliança defende uma mobilização cidadã que nos leve a abandonar o caminho suicida pelo qual enveredámos. Extinction Rebellion Spain e 2020 Rebelión por el Clima reclamam uma alteração profunda de sistema baseada em:
-
Declaração de emergência climática. Que se declare uma emergência climática mas de forma efectiva, com políticas que sigam o que é dito pela ciência e com recursos económicos suficientes para executá-las.
-
Verdade. Que se diga a verdade às cidadãs e cidadãos em relação à situação crítica, climática e ecológica, que se vive neste planeta e que se denuncie a relação directa entre o crescimento económico e a degradação actual dos ecossistemas e sistemas biofísicos dos quais dependemos.
-
Actuação imediata. Reduções drásticas de emissões no menor tempo possível, em linha com o defendido pela comunidade científica.
-
Democracia real. Que sejam colocados em marcha instrumentos cidadãos participativos para que haja supervisão e cumprimento das medidas.
-
Justiça climática. Que a justiça climática seja o centro de toda a acção, para evitar que os que menos contribuíram para o problema e os sectores mais vulneráveis sejam os que mais sofram com os efeitos.
Para estas serem cumpridas é necessária acção real dos governos e participação directa da cidadania na tomada das decisões necessárias para responder a uma crise climática que avança inexoravelmente. A defesa dos bens comuns tem de ser a base de uma democracia real que se abre a novos modos de participação colectiva. Da mesma maneira, é necessária a redução imediata da emissão de gases de efeito estufa, com a finalidade de alcançar a neutralidade carbónica o quanto antes. Esta realidade implica a declaração de emergência climática a nível mundial e a activação dos protocolos necessários para atingir os objectivos referidos. Por último, é necessária a aplicação da justiça climática, que garante uma vida digna a todas as pessoas, ao resto das espécies que habitam a Terra e o direito à vida de gerações futuras.
Extinction Rebellion e 2020 Rebelión por el Clima España consideram que existe uma emergência absoluta de não deixar um planeta moribundo às gerações mais jovens e às futuras e reclama de maneira pacífica a protecção da vida.
Assim, também acreditam que os aspectos mais disfuncionais da sociedade estão vinculados entre si através de um sistema socio-económico que explora as pessoas e a natureza. Portanto pedem que se activem mecanismos contra uma economia suicida e chamam pela vida e pela mobilização civil, coordenada, massiva, face a um sistema que está a levar o planeta para a beira do abismo.
O colectivo pela justiça climática Climáximo e o Extinction Rebellion Portugal estão presentes nas acções em Madrid. No marco da coligação internacional By 2020 We Rise Up e das acções internacionais da International Rebellion, activistas portugueses participam neste protestos, assinalando o enorme processo de convergência e solidariedade internacional. Não pararemos. Ou mudamos tudo no nosso clima e na sociedade ou o clima mudará tudo por nós. Nós somos aquelas de quem estávamos à espera.