A segunda onda de mobilizações da plataforma By 2020 We Rise Up, focada no tema de Finanças, teve uma quinzena de acções em Portugal.
A indústria financeira está organicamente ligada às crises climática e social. Os bancos investem directamente na indústria dos combustíveis fósseis. As gestoras de activos canalizam as poupanças das pessoas às petrolíferas. Os ocultos bancos centrais emprestam dinheiro aos bancos comerciais das nossas esquinas, criando um Estado de Bem-estar exclusivo e desproporcionado para as multinacionais que abastecem o caos climático.
Desde 2016, quando o acordo de Paris foi implementado, até ao final de 2018, os bancos canalizaram 1.900.000.000.000 de dólares para exploração de combustíveis fósseis, isto é, 1,9 biliões. Só entre as 15 maiores gestoras de activos a nível global, que gerem directamente cerca de 20% do valor total de mercados de capitais, encontramos acima de 4,81 biliões de dólares aplicados em sectores como automóveis, gás, petróleo e produção eléctrica via carvão. No caso do Banco Central Europeu, mais de 60% das compras de obrigações do BCE de empresas correspondem a sectores industriais, de produção elétrica e da exploração de gás, correspondendo estas a 58,5% das emissões de gases com efeito de estufa – indústrias que representam apenas 18% do valor bruto acrescentado, ou seja, a contribuição para a economia.
Por isso, diversas organizações em Portugal convocaram a quinzena de acções, Fracasso Económico Mundial, entre 13 e 26 de Janeiro de 2020. Aqui vai um resumo da quinzena.
Clima e Finanças
Para iniciar a discussão, a Academia Cidadã dedicou a edição deste mês das Conversas #nuncamais à crise climática, e lançou uma conversa “As alterações climáticas são uma invenção?” no Com Calma, em Lisboa.
A Rede de Decrescimento organizou uma conversa “Economia: A Falácia do Crescimento“, criticando a mercantilização e a financeirização dos comuns.
Para lançar a quinzena o Climáximo organizou um Passeio Tóxico, uma visita guiada grátis e livre às masmorras dos criminosos ambientais, em que os participantes “visitaram” alguns dos bancos mais importantes na destruição planetária, nomeadamente: Banco Santander, BNP Paribas, BBVA, ING e o Banco Europeu de Investimento. Em cada paragem, os visitantes aprenderam como esse banco em particular está a contribuir para o caos climático e tiveram também oportunidade de interagir com “os locais”. O passeio visou expor e esclarecer a ligação entre a indústria financeira e a crise climática.
Na metade da quinzena, mais de 1500 manifestantes começaram uma caminhada em Suíça contra o Fórum Económico Mundial em Davos. A caminhada durou três dias inteiros, com debates, conferências e concertos nas paragens. A acção exigiu que o Fórum Económico Mundial, uma cimeira privada sem legitimidade social em que se decide uma boa parte das políticas globais, deixe o espaço para a justiça climática e para a democratização da economia mundial.
Climáximo e PT Revolution TV estiveram presentes nesta acção.
Carvão
Um dos focos principais das acções directas não-violentas foi o carvão.
Activistas do Climáximo, vestidos de “prospectores” de um gigante de carvão alemão, a RWE, fizeram uma acção dentro da sede da seguradora Allianz, em Lisboa. A Allianz é uma das maiores seguradoras do mundo e continua a garantir com os seus seguros e com o seu investimento directo, a actividade catastrófica que é a prospecção e a produção de carvão e outros fósseis. Os activistas simularam uma prospecção dentro da Allianz.
Mais tarde, Climáximo entrou em agência do Bank of China para chamar a atenção para o seu papel no financiamento da indústria do carvão. Os activistas deixaram voar uma faixa em que se lê “Carvão = Extinção”.
Gás fóssil
Um outro foco foi o investimento em gás fóssil, já mencionado várias vezes no Passeio Tóxico também. Desta vez, o Banco Santander foi o alvo principal dos activistas.
No âmbito da campanha Gás é Andar para Trás, activistas do Climáximo entraram no balcão do Santander para simular a forma como o banco joga com as vidas das pessoas, jogando com balões de gás. Os activistas foram convidadas a sair. Os balões ficaram dentro do banco e representam a bolha (de gás) em que o banco está a investir.
No entanto, no Porto, Greve Climática Estudantil organizou um protesto à frente do Santander para gritar em uníssono: o lucro mata.
Logo a seguir, o Extinction Rebellion Porto organizou uma concentração para dizer simplesmente a verdade: os bancos estão a patrocinar a crise climática, através de financiamento para a indústria fóssil.
Ao mesmo tempo, Extincion Rebellion Coimbra também organizou um die-in no balcão do Banco Santander em Coimbra.
Destruição da Amazónia
Um outro tema abordado na quinzena foi o financiamento da destruição da Amazónia. Activistas do Climáximo, em representação dos povos indígenas e dos animais da floresta amazónica, foram ao encontro do diretor executivo da BNP Paribas em Portugal, com o intuito de retribuir a visita dos credores que, através dos seus bilhões em investimentos, invadiram a sua casa e os expulsaram de lá.
Agropecuária
Climate Save Portugal organizou uma outra acção no Bank of China, para protestar contra os contratos firmados entre os governos de Portugal e da China na área da suinicultura. O local escolhido representa os avultados e obscuros investimentos por trás destes contratos.
Investimento Público
O Ministério das Finanças também foi um dos alvos dos protestos da quinzena. A campanha Empregos para o Clima organizou uma concentração “Não pagamos a vossa crise climática!” para exigir emprego e investimento públicos para liderar uma verdadeira transição justa.
Tratados Multilaterais
Plataforma TROCA organizou dois eventos no âmbito da campanha “Direitos para as pessoas, regras para as multinacionais! Vamos pôr fim ao ISDS!” que visa terminar com o sistema de justiça privada paralela estabelecido em vários acordos de comércio e investimento e também com a impunidade das empresas multinacionais quando violam os direitos humanos e se aproveitam das “lacunas de jurisdição”. Os eventos contaram com uma exposição “Tratados e comércio: Consequências e impactos para os povos e ambiente” e conversa sobre a justiça paralela das multinacionais.
Regulamentação Bancária
MAPA – Movimento de Ação Política organizou um debate “É uma banca sustentável, se faz favor!” sobre os desafios da banca tradicional e da banca ética e solidária em Portugal, e as relações entre alterações climáticas e banca.
A quinzena de acção contou com 15 eventos e acções em Portugal. Há sinais duma nova crise financeira à vista, que pode pôr-nos numa situação de dupla-crise. A crise climática também é um dos falhaços do sistema financeiro. Responsabilizamos as instituições que financiam injustiças climáticas e sociais. Exigimos o cessamento destes financiamentos e uma mudança sistémica, ao invés das mudanças climáticas. Assistimos a um Fracasso Económico Mundial. Urge juntar forças entre as diversas lutas sociais contra as suas raízes comuns. Urge extinguir as instituições financeiras que se regem pelo lucro a curto prazo e a exploração de pessoas e natureza, antes que estas levem à nossa extinção.
Próximos Passos
Nos dias 21 e 22 de Fevereiro, vamos ao 5º Encontro Nacional pela Justiça Climática para preparar a próxima onda de mobilizações do By 2020 We Rise Up, com várias lutas e campanhas da linha de frente.
Ao mesmo tempo, estamos a começar uma série de apresentações públicas Primavera pelo Clima – O futuro é agora para apresentar a ciência da crise climática e os planos de mobilizações na primavera de 2020.
Para juntar-te à luta, aparece na próxima Reunião Introdutória em Lisboa (4 de Fevereiro) ou nas reuniões quinzenais no Porto.