Como parte da Declaração de Estado de Emergência Climática dentro do Climáximo, decidimos reflectir sobre o que esta declaração significa a nível pessoal. Algumas activistas decidiram partilhar os seus pensamentos e sentimentos publicamente.
Num recanto citadino, sentado pela porta, pinto mais uma vez o meu ver abstrato: com ou sem, mais ou menos trato de amor. Hoje não estou preguiçoso. Aliás, isto resume bastante bem parte do que sinto sobre uma Emergência Climática: “Hoje não estou preguiçoso”, uma frase que tive de repetir diariamente desde que me apercebi que era ativista, ou seja, desde sempre que sou algo parecido comigo mesmo. Desde que me-sou ativamente no mundo.
Afinal, isso é ser ativista: ser tão naturalmente descarado que nos impomos no mundo. Estou tão certo disto, que consigo afirmar que todo o ativista que se digne já proferiu a frase “Tenho cara de pau para isso”. E digo isto com uma certeza muito característica de alguém que se senta em primeiro lugar no chão, mesmo à frente de um agente da autoridade, e saca de uma faixa, em plena Avenida Almirante Reis.
Isto é, ser ativista é também aperceber-me que pouco ou nada do que foi criado pelo ser humano nos últimos séculos faz sentido; Que tudo o que aprendi nos livros de história era propaganda-light; E que vivemos num mundo de sociopatas involuntários, ao ponto da expressão “propaganda-light” existir.
Mas Crise Climática foi mais que isso, e muito mais que passar a escrever Crise Climática e Emergência Climática com Es e Cs em maiúsculas. Emergência Climática foi, e é, agir.
Sempre fui alguém disponível para olhar sobre o mundo com as minhas lentes quase tão irremediavelmente críticas, como românticas. Ah, e claro, para ter cara de pau. Porque agir em Emergência Climática requer uma completa e total desvalorização das normas sociais correntes, em prol do mundo idealizado por mim. “O rei está nu”.
Ser ativista durante uma crise climática e social, é parar de ouvir as melodias dissonantes do mundo, que são colocadas dentro de nós pé ande pé, pelo capitalismo. Temos que reharmonizar a relação da natureza com o ser humano, ao reharmonizar a relação do ser humano consigo mesmo, isto é, desvendar os olhares á nossa volta que estão tão alienados que te vêm como nada mais que um proprietário de mercadorias, e sim, dançar na rua independentemente do que diz toda a gente á tua volta. Temos que abolir os moldes da sociedade nos formam a natureza, para passar a ter uma natureza verdadeiramente humana.
Emergência Climática ensinou-me que já não existe recanto onde me possa abrigar ou estar passivamente, se não quero ser hipócrita. E que, acima de tudo, já não existe estar. Existe agir como inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for.
As ruas estão em chamas, e por isso o nosso coração arde com determinação por uma verdadeira liberdade.
Destaco deste lindíssimo texto o seguinte :
“desde que me apercebi que era ativista, ou seja, desde sempre que sou algo parecido comigo mesmo. Desde que me-sou ativamente no mundo.
Afinal, isso é ser ativista: ser tão naturalmente descarado que nos impomos no mundo.”
Sim, é isso mesmo. Parabéns pela sorte, porque nem toda a gente o consegue. E muita força para continuar porque também há momentos maus.