As respostas do movimento à crise da Covid-19

Passaram dois meses desde a nossa primeira análise “COVID-19 e Clima e Nós” (22 de Março), em que dissemos

A crise global de saúde pública provocada pelo novo coronavírus cristaliza vários aspectos do sistema socioeconómico em que vivemos e ao mesmo tempo aponta para novas possibilidades, quebrando os muros à imaginação. …

Queremos sair desta crise de saúde pública. Mas queremos sair mais organizadas e preparadas para lutar contra a crise climática.

Estamos agora a entrar numa outra fase, de choques das normalidades. Vamos assistir às contradições internas de e aos confrontos entre as tentativas de voltar à normalidade sanitária, à normalidade económica, e à normalidade social. Cada uma destas tem as suas incertezas e todas serão puxadas por diversos interesses (privados e públicos) em sentidos diferentes. Recusamos-nos a meramente assistir a esta contestação: assumimos a responsabilidade histórica de fazer parte activa dela, em conjunto com todos os movimentos pela justiça climática e social, para construir uma nova normalidade.

Neste sentido, gostaríamos de partilhar aqui as diversas declarações e manifestos que nos vão informar e guiar nos próximos tempos.

Uma Nova Normalidade – Campanha Global para Exigir Justiça Climática

A pandemia da covid-19 expôs a incapacidade do sistema económico de corresponder às necessidades das pessoas e do planeta. A única solução que temos para enfrentar esta crise global, que ocorreu no contexto de uma crise climática devastadora, é unirmo-nos e construirmos um mundo mais justo, resiliente e sustentável. Como membros e aliados da Campanha Global para Exigir Justiça Climática, estamos a fazer um conjunto preliminar de exigências aos governos à medida que estes respondem à pandemia. – declaração assinada por 275 organizações pelo mundo inteiro, que exige 10 medidas para responder à pandemia do covid-19, que ajude ao mesmo tempo a lidar com a crise climática e a transformar o sistema económico desigual que esteve na origem de ambas.

Face à COVID-19, os governos têm uma escolha: sociedades resilientes ou resgatar os combustíveis fósseis? – Oil Change International

A crise da COVID-19 representa uma ameaça à saúde das pessoas, aos seus empregos e às suas vidas, e, como todas as crises, exacerba as desigualdades já existentes. Serão necessários triliões de euros em financiamento público para superar a atual pandemia. Este relatório explica por que continuar a depender de combustíveis fósseis, em particular de petróleo e gás, não é compatível com a recuperação a longo prazo. Não faz sentido usar os pacotes de estímulo associados à crise da COVID-19 para tentar reanimar uma indústria em queda, que não contribuirá para a recuperação económica, apenas para a desativar alguns anos depois, de forma a cumprir as metas climáticas.relatório da Oil Change Internacional que resume as recomendações chave (o que fazer) e as principais armadilhas a evitar (o que não fazer) em relação à indústria de combustíveis fósseis.

#SavePeopleNotPlanes: Linhas Vermelhas para os Resgates à Aviação – Stay Grounded

As trabalhadoras e trabalhadores afetados pela crise atual precisam de apoio, mas não devemos deixar a indústria da aviação escapar com a privatização do lucro, enquanto o público paga pelas suas perdas. Sem enfrentar os problemas estruturais que deixaram as nossas sociedades e economias tão vulneráveis a crises como esta, estaremos ainda mais vulneráveis às próximas, uma vez que as desigualdades entre e dentro dos países continuam a crescer e as emergências ecológicas e climáticas se agravam. – carta aberta pelas 250 organizações da rede internacional Stay Grounded que sublinha as linhas vermelhas para os resgates à aviação.

Por uma Recuperação Justa – Carta Aberta Internacional

As escolhas que agora estão a ser feitas agora moldarão, nas próximas décadas, a nossa sociedade, economia, saúde e o clima. Nós, as organizações abaixo-assinadas, pedimos uma única resposta global ao COVID-19 que assegure uma recuperação justa e uma transição para um futuro melhor para todos aqueles que mais necessitam no âmbito desta crise.carta aberta internacional assinada por mais de 500 organizações que sublinha cinco princípios por uma recuperação justa.

E AGORA? | Depois de muitas discussões estratégicas nas campanhas em que estamos envolvidas, nas redes internacionais em que participamos, nos episódios da quarentena climática e nas nossas reuniões, e tendo em mente estas análises acima, estamos a construir um plano de acção para responder às múltiplas crises que enfrentamos.

Manifesto: Resgatar o Futuro, Não o Lucro

No próximo dia 6 de Junho sairemos das nossas casas em manifestação pública, observando os cuidados necessários para protegermos os/as outros/as e para nos protegermos. Sairemos porque há milhões de pessoas que nunca pararam de sair, com enorme risco pessoal e familiar, e não deixaremos que estas pessoas voltem a ser postas atrás de uma cortina de desprezo e desvalorização. Sairemos porque a falta de planos reais e de apoios reais para milhões de pessoas, em Portugal como no mundo, e em particular planos reais para as pessoas mais frágeis, é uma ameaça ainda maior do que a pandemia actual, aumentando a LGBTQfobia, a xenofobia e o sexismo.  Sairemos porque vivemos outras crises, como a crise ambiental e climática, que precipitará outras crises económicas, sociais e sanitárias, e que não só não desapareceu como se agrava. 

Sairemos por um plano massivo de empregos públicos para salvar as pessoas e o clima. Sairemos porque a política e democracia não foram postas numa gaveta e têm de voltar à rua para se expressar, para contestar os rumos e falta de rumos que são impostos sem consulta, sem pergunta ou debate, como se tivéssemos perdido o direito de intervir no nosso governo colectivo. Não ficaremos a assistir à História, criaremos a nossa História.

Mais informações:

Manifestação: Resgatar o Futuro, Não o Lucro – 6 de Junho

Resgatar o Futuro, Não o Lucro

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