Um relatório na Nature Communication, intitulado “Scientist’s Warning on Affluence”, destaca que o combate aos efeitos das alterações climáticas sem atacar as suas causas é inútil, destacando a cultura de riqueza e sobreconsumo como fenómenos que alimentam o capitalismo fóssil e o perpetuam. “A principal conclusão do nosso relatório é que não podemos contar só com a tecnologia para resolver os nossos problemas ambientais existenciais – como as alterações climáticas, a perda de biodiversidade e a poluição – mas que também temos de mudar os nossos estilos de vida afluentes e reduzir os sobreconsumos, em conjunto com mudanças estruturais.” O ónus está nos 1% das maiores empresas do mundo, que estão a destruir sem apelo a viabilidade do planeta. Os 10% mais pobres do mundo são responsáveis por 3 a 5% de todo o impacto ambiental, enquanto os 10% mais ricos são responsáveis por 25 a 43% do impacto total. “Temos de fugir da nossa obsessão com o crescimento económico – temos mesmo de começar a gerir as nossas economias de uma maneira que proteja o nosso clima e os recursos naturais, mesmo que isso signifique menos, nenhum ou até crescimento negativo” diz um dos autores, Tommy Wiedmann, da Universidade de Gales do Sul, na Austrália.
Inquérito conduzido em 40 países demonstra que a grande maioria das pessoas se preocupa com questões relacionadas com as alterações climáticas. Contudo, os resultados apresentam diferenças notáveis entre países, o que, mais uma vez, evidencia as diferenças de percepção entre as populações mais vulneráveis ao impacto das alterações climáticas e as menos vulneráveis. A preocupação é menor em países da Europa ocidental (tais como a Bélgica, Dinamarca, Suécia, Noruega e Países Baixos), nos EUA e na Austrália, sendo que os grupos que demonstram baixo nível de preocupação tendem a ter uma população mais velha ou de direita. Por outro lado, quatro dos cinco países mais preocupados pertencem ao Sul Global (Chile, Quénia, África do Sul e Filipinas). O estudo também aponta para uma subida global na preocupação com as alterações climáticas.
Os próximos 6 meses vão ser essenciais para combater a crise climática. Com políticas de gastos dos estados totalizando 9 biliões a nível mundial para combater a crise da COVID19, a maneira como estes serão gastos moldará a face das economias para o futuro, e a decisão de como gastar este dinheiro vai acontecer em grande parte nestes meses. A queda das emissões que aconteceu devido à quebra na actividade económica devido à Covid-19 foi de 17%, mas a reabertura das economias já levou a uma recuperação de 5%. O plano de investimentos deveria contemplar tópicos como a produção de energia via fontes solares e eólicas, melhorias na eficiência de edifícios e indústrias e modernização de infra-estruturas eléctricas.
Estão a ser batidos sucessivamente recordes de temperatura na Sibéria acima do Círculo Polar Árctico, primeiro 25ºC em maio, depois 30ºC em Junho, 38ºC no dia 19 de Junho, com o satélite Copernicus a registar 45ºC ao nível do solo em vários locais da região. Esta situação revela um ultrapassar de vários dos cenários mais extremos da crise climática, anos antes do tempo e com fenómenos de escala global a precipitarem-se, nomeadamente o derretimento do permafrost e incêndios que ameaçam a floresta boreal, que terão consequência em todo o sistema climático.
O CEO da Pacific Gas & Electric, Bill Johnson, foi considerado culpado em representação da empresa de 84 mortes por negligência, no caso do Camp Fire, o incêndio devastador que ocorreu na Califórnia em 2018. Apesar de a investigação ter concluído que a empresa foi responsável por delitos que resultaram no incêndio e que foram levados a cabo com o interesse de aumentar os lucros dos accionistas, o supremo tribunal irá apenas submeter a empresa a uma coima de 3.5 milhões, não havendo ninguém condenado a pena de prisão. É difícil não traçar paralelos entre este caso e o papel da EDP em incêndios florestais dos últimos anos, como os de Pedrógão Grande e do Monchique, numa linha de impunidade que protege os grandes interesses empresariais. Jamie Henn, co-fundador do 350.org, afirma que o facto de Johnson ter sido considerado culpado de 84 mortes levanta questões sobre quando é que os executivos de empresas de combustíveis fósseis vão ser responsabilizados pelas vidas perdidas devido à continuada extracção de petróleo, gás e carvão.
Investidores estão a forçar várias empresas participadas a rever o valor dos seus ativos devido às alterações climáticas. A BP decidiu rever em baixa o valor dos seus bens em 17.5 mil milhões de dólares a 15 de Julho, o que se encontra numa onda de revisões de valores devido ao potencial destes activos perderem o seu valor económico dada a necessidade de efectuar uma transição energética. Isto enquadra-se numa tendência em que o valor dos bens de empresas como petrolíferas e não só, com bancos, indústrias intensivas no consumo de energia a serem visadas.
A BMW está a planear despedir 6000 trabalhadores por todo o mundo. A Covid-19 levou a uma quebra nas compras de veículos, forçando assim à redução de custos.
A França vai impor a supressão de voos que contem com a alternativa de uma viagem de comboio com menos de 2.5 horas (isto num país com uma rede ferroviária super eficiente), e a Áustria vai impedir bilhetes de serem vendidos a menos de 40 euros.
Várias personalidades ligadas às artes no Reino Unido assinaram uma carta a pedir ao governo uma recuperação verde após a crise do coronavírus. Esta iniciativa dá-se num momento em que todo o sector das artes está em crise devido à pandemia de Covid-19, com uma queda de 74 mil milhões de libras em receitas e cerca de 400.000 potenciais perdas de emprego, situação que já desencadeou pedidos de ajuda governamental urgente. Apesar disso, as preocupações do sector com a descarbonização mantém-se, sendo que antes da pandemia já existiam projectos de reavaliação da sua relação com empresas de combustíveis fósseis como a Shell e a BP.
Mais de 500 organizações no Estado Espanhol mobilizaram-se no sábado passado em 16 cidades para exigir um “plano de choque social” para responder à crise económica da Covid-19 e à crise ambiental e climática. A plataforma exige o resgate das pessoas em vez do resgate das empresas do IBEX35, como os planos de resgate à indústria automóvel ou à indústria da aviação, nomeadamente a Iberia. No seu manifesto as organizações pedem a revogação das leis laborais do PP e do PSOE, a recuperação dos serviços públicos que foram privatizados, o direito à habitação digna, a regularização de migrantes e medidas de urgência contra a violência machista.
Este fim-de-semana foi marcada a primeira manifestação promovida pelo partido nacionalista Chega, pretendendo dizer que Portugal não é um país racista, em resposta à manifestação anti-racista articulada com a plataforma Resgatar o Futuro no passado dia 6 de Junho. A extrema-direita nazi dirigida por Mário Machado foi a primeira convocadora da manifestação e André Ventura respondeu afirmativamente. Mário Machado é um dos vários dirigentes neonazis condenados por homicídio por ódio racial que teve como vítima Alcindo Monteiro e deverá acompanhar Ventura numa manifestação racista que pretende naturalizar o racismo ao afirmar que o mesmo não existe. Já houve tentativas similares noutros países de responder assim à ascensão global do movimento Black Lives Matter e André Ventura tenta cavalgar a teoria de que em Portugal o colonialismo foi light ou que o racismo não é estrutural, convocando vários líderes partidários a participar na manifestação, como os do PSD e do PCP, que disseram isto mesmo. Faz ainda um apelo directo às forças policiais e ao movimento de extrema-direita policial anónimo “Movimento Zero” para que participem. Ventura fala de “Marcha sobre Lisboa” como Mussolini marchou sobre Roma, e revela cada vez mais a sua obsessão e estratégias retiradas do manual fascista do século XX.
Também poderás achar interessantes os seguintes artigos:
Reality check: turbulent times for the climate justice movement – Sinan Eden
This is a personal evaluation of where we are at, as the climate justice movement, in comparison to last year when I wrote a similar piece. Most of my analysis is focused on Portugal but some is applicable to Europe at the least.
A hora da ferrovia – João Reis (Radar Climático | Opinião)
O mote “é necessário investir na ferrovia” é um mantra um do discurso público Português desde há alguns anos. No entanto nunca tem saído das intenções, não se materializando em qualquer horizonte de investimentos num futuro próximo.
Nova cara, o plano de sempre – João Reis
A transição energética que não deixe ninguém para trás foi sendo adiada por alegada falta de fundos e de possibilidade do Estado intervir na economia. Agora há fundos e o intervencionismo é obrigatório.
Uma economia planificada – João Camargo
Na Sibéria, a 22 de Maio, estiveram 25ºC. O recorde anterior era de 12ºC. No dia 9 de Junho, também no Círculo Polar Ártico, a temperatura atingiu os 30ºC na cidade de Nizhnyaya Pesha. Esta temperatura está entre 6ºC e 10ºC acima da média entre 1951 e 1980 na Sibéria. É uma mudança radical daquele território.