O Ministério do Ambiente e da Acção Climática divulgou a Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2). Este documento apresenta o primeiro enquadramento da produção e uso industrial de Hidrogénio no âmbito do Plano Nacional Energia e Clima 2021-2030, e atraiu bastante atenção pública, particularmente em relação à transição energética. Neste dossier, compilamos alguns dos recursos sobre a EN-H2.
Comunicado: Climáximo denuncia a Estratégia Nacional para o Hidrogénio como um paliativo à indústria fóssil
Climáximo, colectivo pela justiça climática, defende que a Estratégia Nacional para o Hidrogénio, em consulta pública de momento, entrega as tecnologias ligadas ao hidrogénio aos mecanismos de mercado, criando auto-obstáculos a uma transição energética justa e rápida no combate à crise climática.
Exactamente por estas razões, esta nova tecnologia deve ser introduzida num processo democrático de transição justa. Pelo contrário, os argumentos do documento
– têm um grande foco num “Projeto Industrial em Sines” que mobiliza recursos para exportação de H2 para os Países Baixos, que nada tem haver com a descarbonização da nossa economia,
– não mostram nenhum plano ou compromisso de substituição dos empregos nas infraestruturas de combustíveis fósseis, mencionando os trabalhadores só como “pessoal qualificado” numa das figuras, ao lado dos outros recursos a serem explorados,
– garantem o funcionamento das centrais a gás fóssil até pelo menos 2040, legitimando-as através da inclusão de 10-15% de H2 nas redes de gás até 2030 e de 40-50% até 2040, e talvez mais importante,
– frisam que o projeto em Sines é “para ser executado sob a forma de um consórcio que contará com empresas portuguesas e holandesas” (em que, na verdade, os únicos interessados mencionados até agora são a EDP e Galp sediadas nos Países Baixos) com subsídios e incentivos do governo para assegurar a rentabilidade do projecto.
Vídeo: A Estratégia do Hidrogénio: Oportunidade Perdida para a Transição Justa?
O 6º episódio do programa Quebrar em Caso de Emergência, focado no hidrogénio e na EN-H2.
Webinar sobre como os mercados de gás foram impactados, e expectativas a curto e longo prazo
Este webinar, organizado pela campanha Gás é Andar para Trás, fala sobre gás fóssil e faz a ligação de como as estratégias energéticas de hidrogénio estão planeadas para salvar a indústria dos combustíveis fósseis.
Estratégia Nacional de Hidrogénio: verdadeira solução ou um passo ao lado? – Luís Fazendeiro
Ainda assim, existem várias razões para estarmos de pé atrás em relação a esta EN-H2. Isto porque, e à medida que a crise climática se agrava, sabemos que Governos e grandes empresas vão cada vez mais procurar mostrar que estão a adaptar soluções sustentáveis. De preferência mantendo tudo exactamente como está para, no caso das empresas, salvaguardar os seus investimentos e modelos de negócio. Ora, como até os cientistas bastante conservadores do IPPC nos avisaram em Outubro de 2018, neste momento precisamos de soluções verdadeiramente disruptoras e de ter a coragem de tomar opções muito difíceis. É preciso pois perceber se o principal objectivo desta EN-H2 é verdadeiramente contribuir para o acelerar da transição energética – ou se é uma forma das empresas de gás fóssil (dito “natural”) subtilmente manobrarem as políticas públicas, prolongando indefinidamente a sua actividade poluidora, sob o alibi de estarem a ser parte da solução.
Ler o artigo completo, no site da campanha Gás é Andar para Trás.
COMUNICADO: Planos do governo para hidrogénio não respondem à emergência climática
Assim, entre outras coisas, a Estratégia Nacional para o Hidrogénio passa por:
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Implementar uma grande capacidade de geração de energia solar fotovoltaica e eólica em Sines (cerca de 1GW), que, em vez de servir para substituir parte da energia fóssil que importamos, será usada exclusivamente para produzir hidrogénio;
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Esse hidrogénio será parcialmente destinado a exportação, com injeção de apenas 10 a 15% de H2 na rede de gás, e 1 a 5% no transporte rodoviário movido a gás, até 2030 – valores que terão um impacto irrisório na redução de emissões, isto na década em que se exigem as reduções mais drásticas;
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A exportação deste hidrogénio será feita via porto de Sines, anulando muitas das vantagens da produção de hidrogénio a partir dos excedentes de eletricidade renovável e contribuindo para aumentar as emissões de gases com efeito de estufa associadas ao transporte marítimo, sector em que as emissões têm crescido muito rapidamente.
Na atual versão, os ativistas consideram que a Estratégia parece antes de tudo servir os interesses da indústria de combustíveis fósseis, definindo um curso de investimento que ajuda a assegurar o protagonismo do gás na produção energética nacional até 2050. O sumário executivo da Estratégia sugere também esta motivação, ao referir-se à “resistência no sector do gás e em alguma indústria” perante os objetivos de descarbonização e eletrificação enunciados nos planos anteriores do governo (Plano de Energia e Clima 2030).
Ler o comunicado da campanha Gás é Andar para Trás, aqui.
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