Capital verde ou ode ao verde capital? – Pedro Vieira

Quando ouvimos falar de uma cidade verde, o que nos ocorre é uma cidade onde existe uma relação de proximidade entre a cidade e a natureza, onde a pegada ecológica de todos é baixa e onde o stress do trabalho é incapaz de superar o lugar para onde a natureza nos transporta. Ora, não é isso que encontramos em Lisboa.

A celebração do ano em que Lisboa foi a Capital Verde Europeia, entenda-se a cidade entre todas na Europa que tem o clima e o ambiente no topo das prioridades, constitui a uma oportunidade perdida para assumir a responsabilidade de construir um plano duradouro de Emergência Climática. Sem enfrentar os verdadeiros problemas que afetam o clima, ficam mais uma vez por aproveitar as excelentes condições para tornar Lisboa numa cidade modelo, não só para as cidades da Europa mas para as outras cidades portuguesas. Ainda que, na CML se acredite que o destino da cidade foi marcado para sempre com um ano pleno de projetos verdes, nós continuamos à espera de ações porque o que pedimos é algo bem mais  relevante do que aquilo aconteceu em 2020.

Neste plano, valorizamos a redução do preço dos passes, que antecedeu o ano da capital verde europeia e a criação da rede de bicicletas partilhadas GIRA, a criação da  ZER, entretanto suspensa devido à pandemia e a construção de alguns jardins. Aliás, consideramos que as soluções referidas colocam Lisboa no bom caminho mas não respondem ao nosso apelo, que relembra que o tempo se está a esgotar. Consideramos que pouco se passou para além disto, que possa ser chamada de ação climática e sabemos que as perspetivas de futuro não são melhores, nomeadamente com o projeto do novo aeroporto do Montijo e a expansão da Portela. Esqueceram-se das emissões dos transportes e do consumo energético nos edifícios.

No plano urbanístico, fustigado por anos de desgoverno, nada está a ser feito para aproximar as zonas mais densamente povoadas aos polos de trabalho, com a aposta nos transportes públicos principalmente da ferrovia suburbana, nem para aproximar os consumidores dos produtores agrícolas, em circuitos curtos de comercialização, que dinamizam os arredores da cidade, criando emprego ao mesmo tempo que influenciam a atual preferência dos cidadãos pelo comércio insustentável das grandes superfícies.

Nós sabemos que não é com pequenos passos que mudamos a sociedade mas com as nossas mãos. A ação coletiva revela-se mais eficaz do que as medidas que nos têm sido pedidas pelos políticos para combater as alterações climáticas… mesmo que por um dia nos tenham pedido para plantarmos 20.000 árvores nos parques da cidade.

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