Radar Climático – 22 de Setembro

Um novo relatório da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC) deixou uma vez mais claro aquilo que há muito se sabe: os estados capitalistas pretendem avançar para o colapso da sociedade.

De acordo com o relatório, o nível de emissões em 2030, se os planos nacionais forem cumpridos, será de um aumento de emissões de 16,3% em relação ao nível de emissões de 2010. Ora, para manter o aumento de temperatura abaixo de 1,5ºC até 2100, o nível de cortes necessário é de 45-55% das emissões em 2030 em relação às emissões de 2010. Isto significa que não só o capitalismo global não está a planear cortar emissões, mas aumentá-las. O nível de emissões previsto nos planos governamentais para 2030 é de 51.7 a 58.4 Gt CO2 eq, comparado com 47.3 Gt CO2 eq de 2010.

Perante esta nova informação, a administração Biden afirmou que o relatório da UNFCCC “não apresenta motivos suficientes” para parar a expansão de licenças para produção petrolífera no Golfo do México.

Esta expansão tinha sido parada no início da administração Biden, sendo uma promessa eleitoral. O governo foi processado por treze Estados governados pelo Partido Republicano e um juiz decidiu que os estados tinham razão, levando Biden a reabrir os concursos para licenças de exploração petrolífera, que agora defende.

Numa nova brecha dos arcos militares imperialistas, a França está em conflito diplomático com os Estados Unidos e em certa medida com a NATO

Esta acontece depois de a Austrália ter cancelado uma encomenda de submarinos nucleares franceses, optando por comprar submarinos nucleares americanos, após a assinatura da nova aliança militar Aukus, entre Estados Unidos, Reino Unido e Austrália para se opor à China. Depois de Trump ter atacado fortemente a NATO, o processo de enfraquecimento da mesma parece consolidar-se.

Devido a uma redução da produção de gás na Noruega e a uma falha que cortou a ligação eléctrica entre a França e o Reino Unido, estalou uma crise energética no Reino Unido, com uma subida agravada dos preços da energia e electricidade.

Isto levou a um aumento de produção com base em carvão e gás. O preço do gás aumentou quase 200% desde o início do ano, e a energia em geral está 266% acima do preço médio de 2021. A pressão já começou para voltarem os projetos de fracking, para aumentar a produção nuclear e para cortar todos os apoios às renováveis.

Insulate Britain corta autoestradas

O movimento Insulate Britain, apoiado por Roger Hallam, está a fazer vários cortes de autoestradas em dias sucessivos para exigir investimento público massivo no isolamento energético das casas, reduzindo a pobreza energética e o consumo de energia de 29 milhões de casas até 2030. Várias activistas já foram presas mais do que uma vez esta semana. Estas exigências são consideradas tacticamente realizáveis no muito curto prazo, distanciando-se das exigências de Extinction Rebellion. Roger Hallam pretende que durante a COP26 em Glasgow pelo menos 300 activistas climáticos sejam presos.

Governo Português avança para corte das margens de lucro das petrolíferas

O cartel petrolífero a reagiu a esta política de forma tímida através da APETRO, mas hoje já ameaçou fechar bombas de gasolina. Em Espanha, uma grande escalada dos preços da electricidade por causa do aumento do gás levou a uma medida do governo para cortar temporariamente as margens de lucro dos produtores que não usam gás natural. As empresas com energia nuclear – Iberdrola, Endesa e Naturgy – ameaçaram fechar as sete centrais nucleares do país, responsáveis por 20% da produção. O confronto à volta das margens de lucro agudiza-se e os preços crescentes são usados como ferramentas de chantagem sobre a transição, enquanto as ameaças de corte de disponibilidade revelam o poder que sectores monopolistas privados têm sobre o conjunto da sociedade.

Em Portugal, a Greve Climática Estudantil lançou esta segunda-feira uma greve climática permanente

Esta começou em duas escolas – Escola Profissional Metropolitana (Lisboa) e Escola Secundária Infanta D. Maria (Coimbra) – e que se manterá até pelo menos 350 pessoas assinarem o compromisso Vamos Juntas, para bloquear a Refinaria de Sines no dia 18 de Novembro, exigindo um plano para o encerramento da maior infraestrutura emissora em Portugal com uma transição justa para os trabalhadores.

Na Alemanha está a acontecer desde o dia 30 de Agosto uma greve de fome em Berlim feita por um movimento chamado “A última geração”.

A greve mantém-se depois de dois dos seis grevistas terem sido hospitalizados. Exigem um debate público sobre a crise climática com os três principais candidatos à chancelaria da Alemanha, onde há eleições no dia 26, o compromisso para a criação de um conselho cidadão sobre o clima depois da eleição. Os três candidatos prometeram encontrar-se com os grevistas depois das eleições, mas não em público. Perante isto, a organização ameaçou deixar de consumir líquidos.

Apesar deste movimento ter ampliado o tema crise climática nas eleições alemãs, o tema não é o principal da campanha, depois de 180 pessoas terem morrido nas cheias deste verão. O principal efeito terá sido afectar a CDU, que perdeu a liderança para o Partido Social-Democrata, que se prepara para ganhar – o que não ocorre há quase 20 anos – mas sem maioria absoluta. Os temas que têm dominado a campanha são reformas e refugiados. As pessoas com menos de 30 anos são apenas 8% dos eleitores alemães, enquanto pessoas com mais de 70 compreendem são mais de 20%.

Estudos mostram jovens pessimistas em relação ao futuro climático

Um estudo publicado no Lancet fez um inquérito a 10000 jovens entre os 16 e os 25 anos de 10 países – Austrália, Brasil, Finlândia, França, Filipinas, Estados Unidos, Índia, Nigéria, Portugal e Reino Unido – concluindo que oitenta por cento acredita que o futuro é assustador, com dois terços a afirmar que os governos estão a falhar na resposta à crise climática. Cerca de dois terços das jovens portuguesas entrevistadas acredita que a Humanidade está condenada e que o governo está a ignorar a angústia das novas gerações em relação à crise climática.

Eleições na sequência de fogos do Canadá deixam governo quase igual

Ignorar a crise climática ou pervertê-la continua a funcionar. Depois de mais de 500 canadianos terem morrido este verão na Columbia Britânica, Justin Trudeau conseguiu ganhar umas eleições antecipadas que precipitou após as catástrofes no país. Desde que Trudeau passou a governar o Canadá, em 2015, as emissões do país aumentaram e os projetos relacionados com as Tar Sands continuam a expandir-se. Recentemente a luta contra o Trans Mountain pipeline pelos Tiny House Warriors intensificou-se, com as comunidades Secwepemc a construírem pequenas casas no percurso de mais de 1150 km (mais de 500 dos quais dentro de território Secwepemc) que pretende triplicar a capacidade de exportação de petróleo vindo de areias betuminosas até ao litoral, saindo pela Columbia Britânica, na costa do Pacífico Norte.

Na Noruega, a maioria conservadora perdeu as eleições, com o partido trabalhista a ganhar 26% dos votos

Nas conversações para formar um governo estão envolvidos os partidos Esquerda Socialista, Partido Vermelho e Partido do Centro. Os dois primeiros opõe-se a novas concessões petrolíferas, enquanto o Partido do Centro não. Os Verdes, que tiveram 3,9%, provavelmente não entrarão na coligação. Eram o único partido que propunha acabar com a produção petrolífera no país… mas só em 2035. O partido trabalhista, liderado pelo milionário Jonas Store, é contra a proibição de novas concessões petrolíferas.

Entretanto, numa campanha para as eleições autárquicas em Portugal onde a crise climática não passa de nota de rodapé

Com unanimidade por parte dos candidatos a Lisboa sobre a construção de um novo aeroporto, António Costa veio dizer que iria dar “uma lição exemplar” à Galp pela “insensibilidade” face ao destino dos trabalhadores da Refinaria de Matosinhos que foi encerradas. Se em Maio Costa tinha elogiado o encerramento da refinaria por cortar emissões – apesar da deslocação da produção para a refinaria de Sines que significa que não há corte de emissões algum – ajustou agora o discurso para a campanha em Matosinhos. Soube-se agora que o governo propôs que os trabalhadores fossem requalificados através do Instituto do Emprego e Formação Profissional, desde que a empresa os mantivesse nos quadros. A Galp recusou a sugestão. Há cerca de 200 milhões de euros do “Fundo para a Transição Justa” que ainda não foram utilizados e a autarca e candidata à Câmara Municipal de Matosinhos disse que esse dinheiro poderia servir para descontaminar os terrenos da refinaria e prepará-los para outros usos. A lição exemplar que o governo, que é acionista da Galp, parece querer dar à Galp é que António Costa pode dizer em público que a Galp é má. E pode sugerir-lhes afincadamente requalificação para os trabalhadores, em reuniões fechadas. Ui.

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