Mais uma Cimeira do Clima
Começou a COP26, a Cimeira do Clima das Nações Unidas. É a COP mais branca e mais privilegiada de sempre. Depois de 26 anos de inação e greenwashing, já não esperamos nada de útil destas cimeiras. Contudo, o momento da Cimeira é-nos útil porque saem muitos relatórios a mostrar porque é que as instituições actuais não conseguem nem querem resolver a crise climática. Destacamos alguns:
Um funcionário do Banco Mundial escreveu um op-ed no The Guardian a dizer que o Banco Mundial está a falhar brutalmente na crise climática. Desde o Acordo de Paris, o Banco gastou mais de 12 mil milhões de dólares em financiamento directo dos projectos de combustíveis fósseis.
O relatório “Still Big Con” explica como os discursos de “emissões líquidas” servem para limpar a imagem das empresas petrolíferas enquanto mantêm as emissões como estão. Na mesma linha, a Friends of the Earth International alerta que os governos e as empresas estão a promover falsas soluções atrás da marca “nature based solutions” que são, basicamente, carbon offsets para manter as emissões como estão, e sublinha casos de Shell, Eni e Nestlé.
Novo relatório do Reclaim Finance analisa onde estava o dinheiro do BCE (Banco Central Europeu) durante o Covid-19 e descobre que quem o recebeu foram a Shell, a TotalEnergies, a Repsol, a Eni e a OMV. O BCE comprou 80 mil milhões de euros em obrigações das empresas intensivas em carbono em compras relacionadas com a COVID-19. Aumentou as obrigações detidas em 16% nas empresas petrolíferas como a Shell, a Total, a Repsol, a Eni e a OMV.
Ainda mais sobre financiamento público: Novo relatório da FoE-US e Oil Change International, Last Call, olha para países de G20 nos últimos três anos e descobre que continua a haver um apoio público de 63 mil milhões de dólares por ano para projetos de petróleo, gás e carvão. Isto é 2.5 vezes mais que renováveis, o que já estagnou desde 2014.
O fracasso das instituições do sistema é a norma. Em Portugal, a revista Visão diz que “vai, com uma equipa de especialistas, acompanhar esta conferência fundamental num canal próprio no site da Visão Verde e na edição semanal”. Destaque para o dossier da Visão, “Hora de Agir”, ser patrocinado pela petrolífera Galp.
A crise de energia na Europa continua, com algum alívio depois da decisão da Rússia para aumentar o fornecimento de gás para a Europa. No mundo do capitalismo fóssil, quem controla os recursos energéticos continua a mandar na economia.
Shell vai entrar em Portugal novamente, via a empresa Prio, com planos de ter 40 postos de abastecimento no próximo ano. Estamos entusiasmadas pelo facto de conseguirmos fazer acções de Shell Must Fall (Shell Tem de Cair) nos próximos tempos em Portugal também.
Em Portugal, a crise política criada pelo chumbo da proposta do OE2022 continua incerta. A probabilidade de eleições antecipadas no início de 2022 está a aumentar, com o debate público dominado pelos possíveis resultados dessas eleições, em vez das políticas públicas que podiam responder às necessidades das pessoas e do planeta.
Sabe mais sobre o que esperar desta COP nesta ligação.