Comunicado | Depois da morte da COP, bloquear a Refinaria da Galp

A declaração final da COP foi o último suspiro deste processo enquanto ideia de espaço participativo. Em Glasgow, com o anúncio de que as próximas reuniões serão sob ditaduras no Egipto e nos Emirados Árabes Unidos, acabaram várias ilusões acerca do processo, dos mecanismos de mercados propostos, da legitimidade e da permeabilidade à influência cidadã. O movimento pela justiça climática, deve orientar-se para a acção, a organização e o seu programa. Esta semana bloqueamos a Refinaria de Sines por uma transição justa para quem lá trabalha.

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A celebração pela inclusão da expressão “combustíveis fósseis” na declaração final de Glasgow – está ausente até do Acordo de Paris – durou pouco, já que foi precedida de linguagem que evitou pôr em causa a continuação plena da indústria do carvão, petróleo e gás. Há uma alusão suave a um desmantelamento programado do carvão, o elo mais fraco, mas nada de concreto, e na mesma frase um apelo ao fim dos subsídios aos combustíveis fósseis.  É, aliás, a COP dos anúncios vazios, como a promessa de travar a desflorestação até 2030, repetindo uma promessa de 2014 que não só não travou a desflorestação como nem sequer impediu o seu aumento, e mantendo a meta num futuro distante. Regressam as promessas de neutralidade carbónica em 2050, baseadas em offsets de carbono que se têm revelado enormes fraudes e colocadas num futuro tão distante quanto inútil.

Durante a COP várias notícias confirmaram que o debate à volta da neutralidade de carbono é um debate acerca de como começar uma nova ronda de colonialismo e extractivismo, onde ir buscar os novos minerais, onde ocupar terras para simular acção climática plantando monoculturas agrícolas e florestais para produção de biomassa e biocombustíveis. Por contraposição, ficámos a saber que há pelo menos 800 novos poços petrolíferas planeados até ao final de 2022, que a União Europeia quer financiar 30 novos projetos de gás com 13 mil milhões de euros de dinheiro público, além de projectos em outros locais do mundo. A expansão da produção de fósseis é um dos planos e a COP tornou-se o local de organização dos vários projetos futuros do capitalismo global. Não é por isso também de estranhar que a maior delegação presente não era de qualquer país, mas sim da indústria fóssil, com mais de 500 lobistas presentes. A recusa reiterada em confirmar um apoio há muito prometido aos países mais pobres, quer para mitigação de emissões, quer para adaptação aos efeitos das alterações climáticas, retira ainda mais legitimidade de um processo unilateral da liderança do capitalismo global.

Já o anúncio dos locais de realização das próximas COP – o Egipto da cruel ditadura de Sisi e o petroestado dos Emirados Árabes Unidos – marca o divórcio final com a sociedade civil. Não haverá mais qualquer simulacro de negociação, só imposição. O movimento pela justiça climática liberta-se finalmente da COP como horizonte de possibilidades. Quando o Acordo de Glasgow foi assinado o ano passado, reconhecendo que o movimento pela justiça climática se tinha de libertar de vez dos processos institucionais e criar o seu próprio programa, organização e força, este momento já era previsível. Foram criados inventários, estão a ser criadas agendas, programas políticos, acções articuladas.

O movimento pela justiça climática deve assinalar a COP de Glasgow como a última COP. O processo da COP é um espaço hostil à Humanidade e ao planeta, o espaço onde se planeia o colapso colectivo, um espaço autoritário e impermeável à razão e à ciência, e mais ainda a qualquer perspectiva política que não seja o lucro.

Esta semana, em articulação global com a campanha Collapse Total, bloquearemos a Refinaria de Sines da Galp, na próxima 5ª feira. Bloqueamo-la porque sabemos que não há qualquer transição energética em curso, só a expansão de renováveis no Norte Global e a expansão de fósseis por todo o mundo. Bloqueamo-la para exigir que não aconteça o mesmo que na Refinaria em Matosinhos, em que os trabalhadores foram abandonados e a produção simplesmente foi deslocada de Matosinhos para Sines, sem qualquer impacto em termos de emissões. Bloqueamo-la porque precisamos de cortar 75% das emissões em Portugal até 2030, num processo social e político sem paralelo na nossa história. Bloqueamo-la porque assumimos a nossa responsabilidade enquanto movimento, pela história que tem de ser construída para travar o colapso climático. Junta-te a nós.

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