Em Julho de 2021, tivemos uma enorme mudança organizativa no Climáximo, em seguimento da nossa declaração de emergência climática. Nunca tivemos tantos desafios internos ao mesmo tempo, e nunca tínhamos falhado tanto. Desde final de Novembro estivemos num período de avaliação, viemos só agora para prestar contas.
Dividimo-nos em grupos de coordenadoras, para assegurar várias iniciativas em paralelo que anteriormente faríamos todas juntas duma forma espaçado em tempo. Desta vez, estivemos a organizar simultaneamente a acção Vamos Juntas, a Marcha Mundial pela Justiça Climática, a coordenação do Acordo de Glasgow, a conferência da campanha Global Climate Jobs, os V Encontros Internacionais Ecossocialistas e a Grande Caravana pela Justiça Climática, enquanto estivemos também activas na campanha Empregos para o Clima, na defesa da ciclovia da Avenida Almirante Reis e inúmeras outras acções e iniciativas. Ao mesmo tempo organizámos muitas formações, webinars, reuniões e debates.
Cada uma destas actividades incluiu novos desafios políticos e novos desafios estratégicos.
E tudo isto foi organizado por activistas que não se sentiam preparadas para coordenar actividades deste tamanho. Somos nós estas activistas não preparadas. Temos tido medo de falhar, e temos falhado, mas continuamos com mais medo do colapso climático do que de nós não conseguirmos cumprir a nossa responsabilidade.
Mais concretamente:
- Pela primeira vez fizemos uma acção relacionada com uma infraestrutura em funcionamento, a refinaria da Galp em Sines, com um discurso claro de transição justa. Foi também a primeira acção de desobediência civil durante um dia de semana e fora de Lisboa.
- Conseguimos acompanhar as outras lutas, apesar de reconhecermos que temos muito mais por fazer neste sentido. Estivemos com o Movimento Zapatista. E mudámos a data da Marcha Mundial pela Justiça Climática para compatibilizar com a manifestação a exigir justiça para Danijoy Pontes. Conseguimos também consolidar a Agenda pela Justiça Climática, que será o principal impulsionador do 7º Encontro Nacional pela Justiça Climática.
- Conseguimos consolidar a equipa legal e as formações. Falhámos em construir e executar um plano de financiamento.
- A nossa ambição internacional não foi concretizada na semana de acções Colapso Total. Talvez por falha nossa, talvez por incapacidade em termos de cultura organizativa de todo o movimento, talvez por momento histórico de pandemia, muito provavelmente pela combinação simultânea destas três questões, o movimento internacional pela justiça climática agora não está mais forte ou mais radical do que na altura da assinatura do Acordo de Glasgow.
No fim desta experimentação, não temos a certeza se conseguimos o salto qualitativo em termos de capacidade organizativa. Temos a certeza que o movimento no sentido amplo não fez um salto qualitativo. Temos a certeza que estamos mais longe de vencer, e mais perto de perder.
Declarar estado de emergência climática dentro do Climáximo não é um mero comunicado que escrevemos de vez em quando. Reconhecemos a dificuldade de internalizarmos o significado dele numa sociedade que sistematicamente ignora a emergência climática, mas reforçamos agora o nosso compromisso.
Entrámos então num período de avaliação intensa, que durou dezenas de horas e mais de dez reuniões (inclusive uma sessão pública), para analisarmos as razões de fundo. Simultaneamente foi lançado um processo de avaliação dentro da plataforma de Acordo de Glasgow.
A avaliação acabou agora e entrámos num novo ciclo de reestruturação organizativa. Com isso, vamos reinventar o Climáximo de novo.