Disciplina Revolucionária, Liderança e Revolução! – António Assunção

Um artigo de seguimento da minha ida para a ULEX era suposto sair dia 14 de novembro se não me engano, 1 semana após voltar para Lisboa vindo do curso “Leadership e Active Solidarity”. Demasiado tempo depois estou a escreve-lo, mais precisamente, 99 dias, um quarto de um ano, uma parte de 24 até 2030, o ano em que nós temos de ter cortado, a nível mundial, as emissões massivamente. A única forma de fazer tal acontecimento é com uma Revolução, global e iminente. Uma missão inimaginável e assustadora.

Temos um prazo extremamente rígido e, embora estejamos cientes das consequências do nosso falhanço, das consequências de não arriscar o suficiente e das distrações que temos. Muitas vezes mantemos estes comportamentos em nós e no nosso coletivo, sem fazer o trabalho necessário para os mitigar. Esta manutenção comportamental constrói muros, não podemos correr tão rápido como precisamos nem adicionar pessoas ao nosso caminho.

Arriscamos e falhamos desde que surgimos, contudo, não arriscamos o suficiente.

Parámos a extração de combustível fóssil em Portugal, a exploração foi transladada para outro local e o consumo manteve-se cá.

Puxámos para os encerramentos de várias centrais e refinarias de combustíveis fósseis em Portugal. Falhámos em não assegurar uma Transição Justa para quem lá trabalhava. Não conseguimos que houvesse uma transição de modelo de produção centralizado, com grandes fábricas, para modelos descentralizados, com cooperativas energéticas, comunidades autossustentáveis e democracia energética.

Arriscámos ao tentar bloquear a principal infraestrutura emissora em Portugal, a Refinaria da Galp em Sines. Não arriscámos pedir ajuda entre camaradas, acabámos cansadas,
separadas e frustradas.

Precisamos de criar espaços corajosos dentro das nossas organizações. Espaços onde as pessoas estejam constantemente a ser desafiadas mas de forma responsável e voluntária, sem a intenção de magoar, com o desejo de ouvir para compreender, com atenção à intenção. Temos de estar disponíveis para haver conflito, contudo precisamos de respeito mutuo. É essencial também encararmos a realidade complexa em que vivemos, com atenção a conceitos que possam significar coisas diferentes e mitigar estas confusões, criando bases comuns para trabalho.

Ainda falta caminhar muito.

Estamos longe da vitória. Estamos longe de termos um coletivo com a disciplina necessária para a alcançar. Estamos longe de ter um coletivo disposto a arriscar tudo para evitar perdermos tudo. Estamos longe de construir e desenvolver um movimento massivo, diverso e global que a vá alcançar e lutar incansavelmente por ela.

Embora estejamos longe, vamos a tempo. Ainda é possível derrotar este sistema, para isso precisamos de arriscar estratégicamente. De certo vamos falhar, mas não podemos ter medo de o fazer, não podemos ter medo de arriscar.

Falhas de accountability e disciplina tornam impossível termos um processo claro para alcançar a nossa missão. O que por sua vez torna impossível a integração e formação de novas pessoas e futuros lideres.

Precisamos de criar estruturas organizativas que estão em constante evolução, que se adaptam à realidade em constante mudança, mantendo os nossos camaradas connosco e não desfocando da missão.

Não podemos entrar na burocratização que surgiu, e ainda existe, dos coletivos e movimentos de esquerda do século passado. A estrutura e a organização devem servir a missão, permitindo que pessoas participem na caminhada para a vitória, não construindo barreiras imensas controlo total sobre nós. Contudo, não podemos também cair na utopia das organizações sem estrutura, onde ignoramos as estruturas de poder que trazemos da sociedade em que vivemos e fingimos que estamos todos em pé de igualdade.

Precisamos de melhorar os nossos comportamentos individuais, de modo a permitir o crescimento do coletivo. É essencial uma militância ativa e constante, sem desfoques da missão e do que é necessário.

Precisamos de olhar para o nosso lado, aliar-nos aos nossos companheiros de luta, nacionais e internacionais, caminhar e arriscar em conjunto e coordenarmos estratégia. Sem isto, sem um movimento extremamente articulado e coordenado que arrisque o que
for necessário, não conseguiremos levar a cabo a Revolução e por consequência alcançar a missão de evitar o colapso coletivo.

Precisamos de tornar todas estas lacunas e falhas em soluções e propostas concretas, é esta a base da Disciplina Revolucionária. Olhar para a organização, reparar nos problemas e individualmente encarregar-nos da sua resolução.

O sujeito na primeira pessoa do plural da última parte aplica-se a mim em todos os pontos e a quem se identificar com este texto.


Texto escrito em seguimento do curso Leaderful Organizing & Active Solidarity no Ulex, em Novembro de 2021

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