Porquê ir ao Acampamento 1.5? – Nina van Dijk

Em Portugal, o palco de inúmeras lutas em nome da Justiça Climática tem sido o Alentejo Litoral, epicentro do capitalismo em Portugal.

Seja sob a forma de capitalismo fóssil ou capitalismo “verde”, a premissa é sempre a mesma, fruto da sede insaciável daqueles que do lucro se alimentam. O colapso climático é, assim, o único futuro que o sistema capitalista nos resguarda. É impossível coexistirmos.

À semelhança da ação de desobediência civil “Vamos Juntas” (em novembro de 2021), que juntou mais de cem ativistas em frente à Refinaria da Galp, este julho exigimos um ponto final nos fósseis em Portugal, regressando à principal emissora de GEE durante o Acampamento 1.5 em Melides, em forma de protesto massivo lado a lado com os principais ativistas, coletivos e organizações que lutam em prol da justiça climática e social. Paralelamente, além de juntar lutas comuns, o Acampamento 1.5 vai também ser um local para ouvir e construir soluções conjuntas, reforçando as ligações entre movimentos e ativistas do país.

Porquê ir ao Acampamento de Ação 1.5?

Sabendo que temos de cortar 74% das emissões nacionais até 2030, a existência de infraestruturas como a Refinaria da Galp em Sines – a mais poluente do país – torna-se um impedimento na resolução da crise climática, nomeadamente no corte de emissões de dióxido de carbono. Para que isto seja possível, é necessário um encerramento planeado e gradual da refinaria até 2025; um plano de descarbonização centrado na democracia energética, descentralizando o setor energético, e uma transição justa que privilegie os trabalhadores e as comunidades afetadas, não os interesses dos acionistas. Não podemos permitir que as temperaturas continuem a escalar a cada ano que passa. Exceder o limite 1.5°C da temperatura significa pôr em risco os ecossistemas dos quais dependemos intrinsecamente. É por isso que temos de agir, tal como a ciência nos adverte. O planeta não pode aquecer mais.

A agricultura intensiva praticada, nomeadamente no parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, é outro reflexo desta realidade capitalista. Contribuindo não só para a exploração desumana e precária de trabalhadores estrangeiros (frequentemente associados a redes de tráfico humano), a agricultura intensiva é também, entre outros fatores, responsável pela desertificação, erosão e contaminação dos solos, e pela atual crise hídrica (ainda mais vulnerável com a subida das temperaturas provocada pelas alterações climáticas), pondo em causa a segurança alimentar da região. O movimentoJuntos Pelo Sudoeste” é um exemplo do ativismo que tem crescido nesta região, em resposta às problemáticas ambientais e sociais acima referidas.

No entanto, estas práticas agrícolas insustentáveis não são, infelizmente, a única manifestação deste sistema podre que vigora, como já foi possível constatar: Enquanto os frutos silvestres e os olivais intensivos cobrem as paisagens do Alentejo Litoral, assiste-se, simultaneamente, nos montados e sobreirais alentejanos, ao adensar das monoculturas e de megaprojetos de painéis solares que cobrem centenas de hectares, investidos por empresas energéticas capitalistas como a Iberdrola e a Galp Energia. O setor da energia é, por conseguinte, um dos setores que contribui mais para a emissão de GEE em Portugal (20,5%, em 2019). Para além das razões apontadas, estes investimentos desmesurados também desertificam e erodem os solos, contribuindo para grandes perdas de biodiversidade, causando impacto em espécies protegidas e afetando as comunidades locais.

É conclusivo, portanto, que não vai ser este capitalismo metamorfoseado sob selos “verdes” e greenwashing que irá resolver a crise climática, uma vez que o objetivo prevalente continua a ser prolongar o sistema e adaptar as economias de mercado a uma visão mais “sustentável”, continuando a produzir capital. A título de exemplo, a Galp Energia, detentora da Petrogal, continua a apostar desenfreadamente nos combustíveis fósseis enquanto “semeia” novos projetos direcionados para as energias “sustentáveis”.

O tempo de agir é agora, e a luta real e justa só pode ser feita pelas pessoas, coletivamente. Os interesses dos capitalistas e das grandes empresas não podem continuar a dominar. Está na hora de desmantelar este sistema viciado e fazer as nossas vozes ouvirem-se. A luta pela Justiça Climática vai continuar a perdurar; exigindo uma transição justa social e sistémica que priorize as pessoas e não o lucro!

Eu junto-me ao Acampamento 1.5 porque é meu dever lutar por aquilo que é de todos nós, por um planeta habitável e saudável. Já conhecemos os piores cenários da crise climática e a narrativa da ciência que tem tentado elucidar-nos da urgência em contrariá-la. Não escolhemos viver no tempo em que vivemos, eu sei, mas podemos escolher mudá-lo pensando num futuro mais sustentável, mais verde, mais justo e ecológico.

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