As alterações climáticas já provocam o deslocamento de duas a três vezes mais pessoas do que aquelas forçadas a deslocar-se por conflitos políticos e sociais, segundo a IDMC (Internal Displacement Monitoring Centre). Este número só aumentará. Nas próximas décadas, haverá centenas de milhões de pessoas em movimento devido à degradação climática, todos os anos.
Para além da tragédia provocada pela crise climática na vida de milhões de pessoas, colocadas em risco permanente, vendo-se obrigadas a deixar para trás os seus lares, meios de subsistência, estilos de vida, familiares e amigos e forçadas a procurar refúgio longe, soma-se o facto de o sistema capitalista, que provocou esta crise de dimensões planetárias, ser um sistema de enorme violência, disposto a violar direitos humanos
para proteger qualquer aparência de status quo.
No dia 24 de Junho de 2022, trinta e sete pessoas foram mortas e centenas mais ficaram feridas, na fronteira marroquina com a Europa, em Melilla.
Segundo o comunicado subscrito por 49 organizações marroquinas em Rabat, “A morte destes jovens africanos nas fronteiras da ‘fortaleza europeia’, alerta para o carácter mortífero da cooperação de segurança em matéria de imigração entre Marrocos e Espanha. O início do drama desta sexta-feira, 24 de junho, foi anunciado por várias semanas. As campanhas de prisões, ataques aos acampamentos e deslocamentos forçados, contra as pessoas que migram para Nador e a sua região, foram os prenúncios desse drama escrito de antemão”. No dia 24, teve lugar uma chacina na vala de Melilla, executada pela polícia marroquina à vista de todos, inclusive mesmo à frente da polícia do Estado Espanhol.
Passado uns dias, dia 27 mais concretamente, do outro lado do mundo, chegou-nos a notícia de que 51 migrantes foram encontrados mortos dentro de uma carrinha abandonada no Texas, e pelo menos uma dúzia mais foi hospitalizada. Esta descoberta no Texas pode ser a tragédia mais mortal entre milhares de pessoas que morreram tentando cruzar a fronteira dos EUA a partir do México, nas últimas décadas.
Estes cenários de violência, repressão e desumanização absoluta são já uma realidade em várias partes do mundo. O Mediterrâneo e a fronteira entre os Estados Unidos e o México, são exemplos de zonas de tragédias recorrentes. Esta realidade não pode ser ignorada e apenas se acentuará, se não agirmos.
As pessoas e áreas mais afetadas pela crise climática são aquelas que menos contribuíram para esta crise. A todas as pessoas afetadas temos o dever de dar apoio aquando da sua deslocação, e a oferecer condições de vida dignas. É criminoso fechar os olhos face à morte de seres humanos que procuram melhores condições de vida.
Justiça climática é justiça migrante e racial. O sistema que prospera com as crises climática, sociais e ambientais, e se alimenta destas mesmas crises, é um sistema que perpetua e depende de desigualdades, opressões e violência.
Adiar a ação é desistir de milhões de vidas! E é isso mesmo que todas as lideranças do capitalismo prometem: mortandade sem paralelo histórico. É preciso justiça climática, que só pode ser assegurada derrubando este sistema!