O que são Empregos para o Clima? – Leonor Canadas e Gonçalo Paulo

Na semana passada o Ministro do Mar e da Economia queixou-se aos jornalistas de que, numa reunião que teve com cinco pessoas com idades entre os 17 e os 21 anos, estas não lhe apresentaram uma proposta sobre como salvar o seu futuro. Na verdade, apresentaram-lhe a campanha Empregos para o Clima

Empregos para o Clima é o nome de uma campanha que junta 24 organizações pertencentes aos movimentos laboral e pela justiça climática e de um relatório escrito em colaboração com dezenas de especialistas, que explica como Portugal pode cortar as suas emissões em 85% até 2030, criando 200-250 mil empregos dignos nos sectores-chave para a transição, como energia, mobilidade, construção, agricultura e floresta.

A campanha é a proposta política do movimento pela justiça climática para responder às crises climática e socioeconómica, de uma forma socialmente justa e compatível com a ciência climática. Defendemos a criação de novos postos de trabalho no sector público, em sectores-chave que têm impacto direto nas emissões, com garanta de requalificação profissional e prioridade ao emprego para as trabalhadoras e os trabalhadores dos sectores poluentes.

Cerca de 70% da energia consumida em Portugal é proveniente de combustíveis fósseis e toda essa deve ser substituída por energia renovável. Considerando o mix-energético proposto pela campanha, estima-se a necessidade de criar 60 a 100 mil novos empregos num período de 10 anos, garantido a eliminação das emissões gases de efeito de estufa provenientes do sector energético.

Tal seria acompanhado de uma descarbonização do sector dos transportes, responsável por um quarto das emissões portuguesas. Para isso é necessária uma rede nacional ferroviária extensa e eletrificada. Nas zonas urbanas será necessária a expansão das redes de metro, comboios e elétricos. Para complementar a ferrovia, deverá recorrer-se ao uso de autocarros elétricos. Entregas de primeiro e último quilómetro serão executadas por camiões elétricos de pequeno porte. A expansão e transformação da rede pública de transportes pode levar à criação de 60 mil empregos diretos e à redução das emissões do sector a virtualmente zero.

O consumo energético do sector residencial em Portugal é inferior ao da União Europeia, devido a um alto nível de pobreza energética. É preciso equipar edifícios com sistemas de aquecimento ao mesmo tempo que se investe no seu isolamento. Isto não só reduziria emissões, como resultaria numa melhoria das condições de habitação e trabalho das pessoas. Assim, é possível criar 35 mil novos empregos, enquanto se corta 40% do consumo energético deste sector.

Na indústria é necessário eletrificar todos os processos que usem a queima de combustíveis fósseis para gerar energia. A campanha propõe ser possível cortar até metade das emissões associadas aos processos industriais, enquanto se criam entre 5 e 20 mil postos de trabalho para permitir esta transformação.

É ainda possível criar empregos para reduzir as emissões do sector agrícola, na gestão de resíduos e na gestão e proteção florestal. Todos estes planos têm de ser acompanhados por programas de educação, requalificação e formação profissional, assim também criando mais empregos.

A campanha estima que é necessário um investimento entre os 6 e os 9 mil milhões de euros por ano (cerca de 3% do PIB português). Sabemos que este custo é muito menor do que os custos associados à crise climática. E também sabemos que se o planeta fosse um banco a precisar de ser salvo seria possível encontrar esses milhões.

Na reunião com o movimento “Fim ao Fóssil Ocupa”, o Ministro do Mar e da Economia ficou surpreendido por as cinco ativistas não terem feito o trabalho que lhe compete. Compreende-se assim porque é que estas pediram a sua demissão. A verdade é que o relatório Empregos para o Clima expõe, no momento, o único plano público compatível com a ciência climática em Portugal. Foi esse que as ativistas “sem propostas” propuseram ao Ministro da Economia e do Mar.


Artigo originalmente publicado no Expresso a dia 25 de Novembro de 2022.

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