Neste momento ainda não há extração de combustíveis fósseis em Portugal. Algumas empresas, com o apoio de alguns políticos, querem começar a prospeção e a extração em breve. Todas as concessões são baseadas em contratos rudimentares, sem quaisquer considerações sérias sobre impactos ambientais, económicos e sociais, exceto os lucros que podem gerar para as empresas envolvidas.
Na melhor das hipóteses, estes senhores nunca ouviram falar das alterações climáticas.
A emergência climática
Para evitar alterações climáticas catastróficas, é preciso limitar o aquecimento global a 2°C acima dos níveis pré-industriais. O ano passado atingimos 1°C e este ano vai ser ainda pior. Se passarmos o limite dos 2°C, vários ecossistemas vão colapsar. Isto poderá levar a aumentos de 4°C a 6°C durante este século. Os cientistas referem-se a esta possibilidade como “o fim do mundo como o conhecemos” porque mudanças tão abruptas invalidariam quaisquer opções de adaptação e até de modelização: não temos quaisquer métodos científicos para perceber como seria um mundo 6°C mais quente, quantos seres humanos este mundo poderia suportar e quantas espécies e ecossistemas sobreviveriam.
Para lá deste limiar dos 2°C estão secas crónicas, tempestades, ciclones, cheias, enormes perdas de biodiversidade, epidemias, subida do nível do mar, acidificação dos oceanos, falhas de infraestruturas, crises alimentares e de acesso à água, guerras e refugiados climáticos. Para colocar este último ponto em perspetiva, a crise na Síria criou 4 milhões de refugiados (dos quais apenas algumas centenas de milhares entraram na Europa); prevê-se que as alterações climáticas possam criar 200 milhões de refugiados até 2050.
Mas nada disto é inevitável. A ciência climática mostra que temos boas possibilidades de manter o aquecimento dentro de limites que preservariam a habitabilidade do planeta. Para o fazer, temos de deixar mais de 80% das reservas de combustíveis fósseis conhecidas debaixo da terra. (E ainda querem procurar novas reservas?)
Em Portugal, temos de cortar 64% das emissões de gases de efeito de estufa em 15 anos. Isto não se consegue iniciando projetos de extração de combustíveis fósseis.
De uma perspetiva de justiça climática: à medida que as concessões se transformam em projetos de extração, e mesmo que tomem medidas de segurança extraordinárias, se preparem contra os mais pequenos riscos, paguem salários decentes aos seus trabalhadores (imagine-se!); isto é, mesmo que as empresas envolvidas cumpram todas as condições legais e façam tudo de acordo com os seus planos, estamos condenados. Para alem da enorme destruição ecológica no Sul Global, à qual Portugal deve estar particularmente atento, dada a sua história com os países de língua oficial portuguesa, as povoações na costa atlântica vão ser afetadas pela subida do nível do mar, o Alentejo vai ser afetado por secas e subida de temperatura e as cidades vão ter sérias falhas de infraestrutura. E há quem esteja a investir dinheiro nisto!
Resumindo, as empresas de combustíveis fósseis negam as alterações climáticas e a política climática portuguesa nega as leis da física e da química.
A única proposta realista para um planeta justo e habitável é deixar os combustíveis fósseis debaixo da terra e mobilizar todas as forças sociais, económicas e políticas para uma transição justa para um futuro sustentável. Em termos práticos, um bom começo é parar todos os projetos de extração de combustíveis fósseis em Portugal – fazer com que o governo cancele todos os contratos existentes e imponha uma moratória a quaisquer novos contratos.
Uma estratégia para um planeta habitável
O Climáximo é um movimento social pela justiça climática que luta por uma transformação radical nas nossas sociedades. Esta é a nossa proposta de estratégia a curto e médio prazo:
Destacamos quatro alvos a curto prazo:
GALP: Juntamente com a ENI, a GALP tem uma concessão para exploração e extração em deep-offshore na bacia do Alentejo. Anunciaram a intenção de começar a prospeção a 1 de Julho.
REPSOL: Juntamente com a PARTEX, a REPSOL tem concessões de deep-offshore em quatro areas da bacia do Algarve. Anunciaram o início da exploração para este Outono.
- ENMC: Esta é a instituição do Estado ao serviço da indústria dos combustíveis fósseis. Numa demonstração de completa negação climática, declararam-se
publicamente a favor da extração e estão em processo de negociação de ainda mais contratos.
- PARTEX: Propriedade da Fundação Calouste Gulbenkian, sendo a sua única fonte de financiamento, a PARTEX está envolvida em concessões nas bacias do Algarve e de Peniche.
O nosso lema é o seguinte: Já temos muito pouco tempo para ação climática. Mas as empresas e os seus defensores dentro do Estado ainda têm tempo para recuar. Se passarem as linhas vermelhas de um planeta habitável, nós teremos de passar as suas linhas vermelhas, através de ações de desobediência civil.
Temos soluções.
É preciso parar todos os projetos de extração de combustíveis fósseis em Portugal. Mas isto não é suficiente. Cerca de três quartos da energia consumida em Portugal é proveniente de combustíveis fósseis, o que significa não apenas dependência energética mas também que Portugal é responsável por projetos de extração noutras partes do planeta.
Precisamos de uma transformação profunda da nossa sociedade. É preciso:
- produzir toda a nossa eletricidade a partir de energias renováveis e sustentáveis, tais como eólica e solar,
- deixar os carros, em prol de autocarros, comboios e metro e colocar quase todos estes transportes a funcionar com energias renováveis,
- isolar e converter todas as casas e edifícios para que usem menos energia e sejam aquecidos e arrefecidos utilizando energias renováveis,
- converter e redesenhar a indústria para que use menos energia, usando energia renovável sempre que possível, e
- redesenhar a produção agrícola para que use menos produtos industriais.
Isto vai exigir muito trabalho.
A nossa proposta para esta transformação profunda é a campanha dos Empregos para o Clima. Resumidamente, esta campanha defende
- a criação de empregos seguros, estáveis e com boas condições,
- no setor público,
- em setores de atividade que contribuam diretamente para a redução das emissões de gases de efeito de estufa,
- ao mesmo tempo garantindo novos empregos para os trabalhadores das indústrias poluentes.
Isto não é apenas possível e urgente, mas também uma condição necessária para a sobrevivência de qualquer tipo de civilização.
A nossa prioridade é resistir e bloquear projetos de extração, ao mesmo tempo que propomos soluções reais para o caos climático.
Plano de ação
Este é o nosso plano de ação a curto prazo:
- 25 de junho: Formação sobre Ativismo Climático
- 1 de julho: Passeio Tóxico, integrado na Bicicletada (incluindo uma visita à GALP)
- 30 e 31 de Julho: Formação sobre Ação Direta Não-violenta
- Verão: Ficar atentos ao Alentejo (olá GALP!)
- Julho-Agosto-Setembro: Preparar um estudo detalhado sobre Empregos para o Clima em Portugal
- Setembro: Formação sobre Ativismo Climático
- Outubro: Semana de ações ligando a justiça social à justiça climática e a precariedade à catástrofe climática: Jogam com as nossas vidas!
- Outono: Ficar atentos ao Algarve (olá REPSOL e PARTEX!)
- Todo ano: seguir todos os movimentos da ENMC
Há muitas formas de participar nesta luta. As alterações climáticas são o maior desafio da história da humanidade. Por todo o mundo, milhares de ativistas estão a construir um movimento para mudar o sistema, em vez de mudar o clima.
E precisamos de tod@s.
Se fazes parte de uma organização ou movimento, partilha e discute esta proposta e fala connosco. Participa na campanha dos Empregos para o Clima. Traz as tuas ideias, para planearmos juntos todas as iniciativas.
Se estás a par de assuntos de justiça climática, aparece nas nossas reuniões semanais: Estamos dispostos a preparar ações de desobediência civil para impedir que os criminosos do clima passem as linhas vermelhas do planeta. Mas estas ações exigem trabalho de equipa, treino, convergência política e estratégica e muito trabalho de bastidores. Isto significa mais pessoas envolvidas nas reuniões e nas discussões. 😉
Se isto te deixa curios@ (ou excitad@, ou furios@) mas não sentes ter conhecimentos básicos sobre as alterações climáticas, estamos a preparar um momento para apresentar o nosso coletivo e ouvir novas ideias. Aparece na formação no dia 25 de junho.
Até já, 😉
Climáximo