O nosso objetivo ao ir a Madrid foi o de juntar a nossa voz a todos os que sentem a mesma urgência de se darem passos efectivos na alteração das políticas, e das mentalidades, que conduziram, ao longo muitas décadas, ao desastre ecológico iminente que vivemos.
Pudemos, na COP, observar frentes distintas: de um lado, governos e empresas, que põem os seus interesses imediatos à frente de qualquer consideração séria de sustentabilidade. Por outro, temos uma imensa sociedade civil global que ainda tarda a tomar consciência do imenso desafio que se aproxima.
Sentimos do lado das intervenções dos países ditos “em desenvolvimento”, inúmeras iniciativas de quem sente na carne os golpes das picaretas, das escavadoras, dos incêndios, e dos desastres ambientais desta doença que desgraça toda a biosfera – o capitalismo, com imagens que dão sentido literal à expressão “linha da frente”: com pessoas que vivem com refinarias do outro lado da rua.
O governo no Chile incute um modelo ultra-liberal de pensamento na sua população, onde se uma pessoa é pobre, isso é atribuído a ela não trabalhar, e se há problemas de alterações climáticas, é porque ela não recicla.
Para adicionar a isto, fizemos contacto com ativistas indígenas em vários eventos, que nos espalharam pelos olhos o facto da nossa responsabilidade histórica, especialmente como país colonizador, ser tremenda quanto ás crises política, ecológica, e social dos países mais afetados pelas alterações climáticas. Presenciámos também histórias de casos concretos do impacto da crise climática no escalamento de conflitos por recursos naturais, por exemplo quanto à diminuição da produtividade agrícola a levar a conflitos entre agricultores e criadores de gado pela utilização das terras.
Concluímos que estamos verdadeiramente na vanguarda em conhecimento teórico, na nossa ideologia e pensamento político, em linha com Espanha com quem fomentámos alianças; mas também quanto ao nosso conhecimento prático, na nossa estratégia e técnicas, em linha com os ativistas mais experientes em ação direta.
E concluímos que ainda não somos suficientes. Ainda não acordámos o suficiente, ainda há muita gente a ver a manifestação passar, muita gente a discutir o sexo dos anjos, enquanto as muralhas exteriores já caem com estrondo, e os anjos nem devem ser binários.
Costuma-se dizer que somos a única espécie inteligente do planeta ou, pelo menos, a mais inteligente. É a hora de o demonstrar.
– CMX