A crise global de saúde pública provocada pelo novo coronavírus cristaliza vários aspectos do sistema socioeconómico em que vivemos e ao mesmo tempo aponta para novas possibilidades, quebrando os muros à imaginação.
Em poucos dias, tivemos um curso intensivo colaborativo de como se deve responder a uma crise, seguindo o que a ciência diz e utilizando ao máximo o princípio da precaução. Reconhecemos a importância de deixar o lucro para trás quando se trata da vida de milhões de pessoas. Aprendemos a indispensabilidade dos serviços públicos e importância dos bens comuns. Este curso será muito útil depois, para travarmos a crise climática.
Descobrimos também como os políticos podem tratar uma crise como uma crise, quando se trata de uma crise que ameaça também os 1% – mesmo que seja um banqueiro por cada dez mil mortes. Este estado de mobilização social vai continuar até ao momento em que haja possibilidade de isolar os ricos; e o COVID-19 vai continuar a matar milhares de pessoas como dezenas de outras doenças (muitas vezes curáveis ou tratáveis) no Sul Global. Esta descoberta será essencial para compreender a inacção climática.
A crise mostrou também a interdependência global do sistema, e como um entupimento pode provocar disrupção nas cadeias de fornecimento. Os sinais até hoje indicam que a situação será muito dura para os mercados: o impacto não será só na aviação ou turismo, mas também no petróleo e portanto em todos os sectores. Esta interdependência económica é uma vulnerabilidade do sistema e mostra que reconhecer e construir uma interdependência social de base pode ser a nossa força.
Os próximos tempos vão mostrar o aproveitamento político de um estado de choque social que a comunicação social construiu com um enorme esforço. Este aproveitamento pode ter formas já bem conhecidas, como resgate das empresas multinacionais e dos bancos, mas também pode tomar novas formas mais opressivas.
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Queremos sair desta crise de saúde pública. Mas queremos sair mais organizadas e preparadas para lutar contra a crise climática.
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No Climáximo, estamos a fazer duas coisas:
1) adaptar o nosso funcionamento para conter a pandemia, e
2) preparar um plano de acção que consegue recuperar as várias semanas perdidas de acção climática.
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Já em curso:
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Mantemos todas nossas reuniões semanais e das campanhas, utilizando ferramentas online e evitando reuniões presenciais.
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Criámos um programa informativo em vídeo, podcast e texto chamado “Quarentena Climática”, publicado nas redes sociais, Youtube, Vimeo e Spotify, introduzindo uma perspectiva crítica sobre a crise do coronavírus, a crise económica e a situação de emergência climática.
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Estamos a fazer apresentações e assembleias abertas online por livestreaming, como o Briefing de Acção da Galp Must Fall e a apresentação Primavera pelo Clima.
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As Task Forces para traduções, edição de imagens e edição de vídeos continuam activas e vão ter um papel importante nos próximos tempos.
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Estamos a criar uma estrutura de cuidados dentro do Climáximo, para mitigar o isolamento social e facilitar a integração e coesão no colectivo.
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Em breve:
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O nosso foco não é manter serviços mínimos da luta. Estamos a organizar-nos mais e melhor do que antes. Vamos produzir diversos materiais de divulgação, baseado em novas traduções e novas pesquisas que a nova situação facilita.
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Vamos organizar Reuniões Online de Recrutamento para todas as pessoas que têm tempo e podiam ajudar com tarefas mais caseiras.
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Estamos a reestruturar as nossas campanhas (ATERRA, Gás é Andar para Trás, Empregos para o Clima) para garantir abertura e envolvimento para novas pessoas interessadas.
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E as acções?
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No âmbito da campanha By 2020 We Rise Up, estamos a facilitar uma conversa internacional para avaliar as acções planeadas para a terceira onda de mobilizações na primavera. Sabemos que algumas das acções, que dependiam dum processo de recrutamento e preparação nas próximas semanas, serão canceladas.
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Os nossos planos mantêm-se: se a GALP avança com a Assembleia Geral Anual dos Accionistas no 24 de Abril, vamos fazer a acção Galp Must Fall! no dia 24 de Abril. Se adiarem a assembleia, adiaremos a acção.
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As outras acções em Portugal são condicionadas pelas decisões das nossas parceiras internacionais como Fridays for Future, Extinction Rebellion, Shell Must Fall!, e a Acampada Climática.
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