O momento político de dia 22 de Maio, a ação de desobediência civil pela justiça climática “Em Chamas”, dinamizada pelo coletivo Climáximo, contou com a detenção de vinte e seis ativistas. O grupo esperou largas horas na esquadra, sem conhecer o motivo e as condições que levaram à situação na qual se depararam. O tratamento diferenciado pela polícia começou na esquadra com o processo de revista injustificado dos corpos do grupo, tendo em conta a infração com que tinham sido acusados.
Na esquadra, por algum motivo, o género cinge-se à distinção entre mulheres e homens e, estranhamente, as mulheres são consideradas mais suspeitas que os homens. Enquanto que o grupo masculino experienciou uma mera revista superficial, que se expressou no tateamento por cima da sua roupa, as mulheres foram forçadas à nudez (nalguns casos, sem roupa interior), tendo algumas que se agachar de seguida para provar que não constituíam uma ameaça. Algumas mulheres foram, inclusive, intimidadas verbalmente, quando já se encontravam numa situação de extrema vulnerabilidade, o que se afigura inaceitável.
A humilhação de corpos, e em específico, femininos não nos passa como indiferente. A tentativa de intimidação e de submissão à hierarquia de poderes que imperou na esquadra dos Olivais dia 22 de Maio foi, contudo, falhada, porque dependia do desconhecimento do direito das detidas. O direito à igualdade, à integridade física, e à integridade moral não termina na entrada da esquadra ou do sistema penal.
O patriarcado faz parte das nossas vidas. Envolve as nossas relações sociais, o modo como convivemos, e as nossas instituições. A emancipação e libertação da teia de relação de forças sociais opressivas sempre foi a luta levada a cabo pelo movimento feminista. Desde o direito ao voto à legalização do aborto, foram diversas as conquistas que este movimento alcançou em Portugal, caminhando de mãos dadas com os movimentos internacionais que trouxeram para o debate público a importância da igualdade, em todos os sentidos da palavra.
Sabemos, no entanto, que ainda há muitas lutas por travar. Continuaremos a denunciar o comportamento machista da polícia portuguesa, que não passa indiferente ao movimento feminista!
Assinado por: Climáximo, A Coletiva, Feminismos Sobre Rodas, Marcha Mundial das Mulheres Portugal, Núcleo Feminista de Évora, UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta