Cancelar a dívida: pelo clima e pela justiça global

Os países do Norte Global emitiram muito mais CO2 do que os do Sul. Os impactos da crise climática que neste momento estamos a observar devem-se às emissões resultantes do aceleramento industrial após a Segunda Guerra Mundial. Ao mesmo tempo, o colonialismo desindustrializou os países do Sul Global e ativamente reduziu as suas capacidades de resiliência, adaptação e transição (o que continua com o neocolonialismo e com os projetos extractivistas). A isto chama-se dívida ecológica.

Por outro lado, o Sul Global está em dívida financeira com os países do Norte Global por causa dos empréstimos diretos ou indiretos (da FMI e do Banco Mundial). Esta estrutura foi montada por imposição (em muitos casos militar) e chantagem durante o processo de descolonização, sendo consolidada com o neoliberalismo. Atualmente muitos países só conseguem pagar os juros das suas dívidas nos anos economicamente favoráveis, ficando geralmente cada vez mais endividados.

Em paralelo, na diplomacia internacional, continua a conversa sobre financiamento climático para o Sul Global. Para começar este financiamento tem dois problemas. Em primeiro lugar, os países do Norte Global não conseguiram angariar, nos últimos quinze anos, o valor necessário para o financiamento anual. Ou seja, os fundos climáticos são ridiculamente baixos. Em segundo lugar, este financiamento devia ser em forma de pagamento e não (como está a acontecer) em forma de empréstimo. Se o valor financiado necessitar de ser devolvido, então não será propriamente um financiamento pelo clima mas sim apenas um investimento verde como outro qualquer.

Existe ainda um terceiro problema muito mais estrutural. O sistema financeiro está de tal forma montado que, quando um país do Norte Global financia um país do Sul Global, o retorno desse financiamento aos bancos do Norte Global demora poucas semanas devido aos pagamentos de dívida em atraso. O sistema colonial foi estruturado para impossibilitar soberania dos países do Sul Global.

Devido à dívida financeira, o financiamento climático não tem como resultado uma política climática no Sul Global. No entanto, tendo uma dívida ecológica no outro lado da balança, poderíamos fazer uma troca.

Deste modo, vários grupos ligados ao movimento pela justiça climática estão a exigir um jubileu de dívida dos países do Sul Global como forma de compensação para que estes deixarem os combustíveis fósseis debaixo do solo e financiarem uma transição justa. No atual sistema financeiro global esta é única forma eficaz de pagamento de reparações históricas.

Os grupos convocaram uma ação a ser realizada durante a próxima cimeira do G7, que vai ter lugar entre 26 a 28 de Junho, em Baviera na Alemanha.


Mais informações sobre a campanha em: https://www.debtforclimate.org/

Mais informações sobre a ideia de jubileu de dívida, aqui:

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