Alaa Abd El-Fattah é escritor, ativista, programador de software, cidadão egípcio-britânico, e um dos mais de 60 mil presos políticos no Egito. Encarcerado ilegalmente, sujeito a maus tratos e tortura, está em greve de fome desde 2 de abril de 2022.
Alaa passou a maior parte da última década atrás das grades e foi condenado, em dezembro de 2021, a cinco anos de prisão sob acusações de disseminar notícias falsas. Não é caso único: o regime autoritário de Abdul Fatah Al-Sisi detém, prende e tortura, de forma sistemática, milhares de pessoas que contestam a repressão. Estima-se que o Egito tenha, neste momento, mais de 60 mil presos políticos, e é o terceiro país do mundo que mais prende jornalistas.
Desde os anos 2000, Alaa documentou, juntamente com a companheira Manal Bahey El-Din Hassan, os abusos da ditadura egípcia, tornando-se uma figura central do ativismo político no país. A partir da Primavera Árabe e da Revolução da Praça Tahrir, as autoridades egípcias tentaram silenciá-lo, à sua família e dezenas de milhares de outros ativistas com prisões ilegais, em condições desumanas.
Durante anos, Alaa não pôde sair da cela, saber as horas, ou ter acesso a qualquer informação do mundo exterior, incluindo ao seu filho, Khaled, com 10 anos. “O crime dele, como o de milhões de jovens no Egito e noutros lugares, foi acreditar que um outro mundo era possível. Ele teve a coragem de o tentar tornar possível”, escreveu Laila Soueif, mãe de Alaa, matemática, professora universitária e ativista.
Há mais de quatro meses em greve de fome, o estado de saúde de Alaa tem-se deteriorado rapidamente, estando a sua vida em risco. Fazendo nossas as reivindicações de Alaa Abd El-Fattah, exigimos a:
1 – Libertação de todas as pessoas presas nas prisões da Agência de Segurança Nacional ou na sua sede;
2 – Libertação de todas as pessoas que excederam o período de prisão preventiva: 6 meses para aquelas acusadas de contra-ordenações, 18 meses para aquelas acusadas de crimes, e 24 meses para aquelas que podem enfrentar prisão perpétua ou pena de morte;
3 – Libertação de todas as pessoas que foram sentenciadas inconstitucionalmente (de acordo com a nova Constituição), como aquelas que foram acusadas de publicar conteúdo ilegal, ou acusadas em tribunais de emergência;
4 – Absolvição ou liberdade condicional para todas as pessoas condenadas em casos onde não haja vítimas.
O Egito será também o palco da COP27 (Conference of the Parties), onde representantes políticos de todo o mundo se reunirão para discutir a crise climática e o futuro da humanidade. Tal como aconteceu em edições passadas, a conferência tem servido para adiar a tomada de decisões que resolvam a crise em que nos encontramos, distraindo-nos com pequenas insignificantes propostas. Enquanto isso, o regime de Sisi utiliza esta conferência para se vangloriar pelo seu papel ambientalista: “Acredito profundamente que a COP27 é uma oportunidade para demonstrar a nossa união contra uma ameaça existencial que apenas podemos ultrapassar através de uma ação concertada e a sua implementação efectiva”, escreve o presidente do Egito no site da COP27. Por tudo isto, exigimos também o boicote à COP27 de novembro.
Ao 157.° dia de greve de fome de Alaa Abd El-Fattah, segunda-feira, 5 de setembro, juntamo-nos às 18h30, no Largo do Intendente, em Lisboa, pela sua libertação e o fim das prisões políticas no Egito.
“You Have Not Yet Been Defeated”. Open letter calling for the immediate release of Alaa Abd El-Fattah’s and of all political prisoners in Egypt
Alaa Abd El-Fattah is a writer, activist, software programmer, Egyptian-British citizen and one of more than 60,000 political prisoners in Egypt. Illegally imprisoned, subjected to inhumane treatment and torture, he has been on hunger strike since April 2nd, 2022.
Alaa has spent the greater part of the last decade behind bars. In December 2021, he was sentenced to 5 years in prison, accused of disseminating false news. Alaa is not the only one: Abdul Fatah Al-Sisi’s authoritarian regime systemically detains, imprisons and tortures thousands of dissidents. At the moment, it is estimated that Egypt holds over 60,000 political prisoners, and ranks as the third country with the highest number of jailed journalists in the world.
In collaboration with his wife Manal Bahey El-Din Hassan, Alaa has documented the violations of the Egyptian dictatorship since the 2000s. Throughout the years, he has become a key figure in political activism in the country. After the Arab Spring and the 2011 Egyptian Revolution, Egyptian authorities attempted to silence Alaa, his family and tens of thousands of other activists in state security prisons, facing inhumane conditions.
For years, Alaa was unable to leave his cell, unaware of the time, without access to any information about the outside world, including news of his son, Khaled, who is now 10 years old. “His crime is that, like millions of young people in Egypt and far beyond, he believed another world was possible. And he dared to try to make it happen,” wrote Laila Soueif, Alaa’s mother, a mathematician, university professor and activist.
After more than four months on hunger strike, Alaa’s health is quickly deteriorating and his life is at serious risk. Reiterating Alaa’s demands, we demand:
1. To release all those who are imprisoned within National Security prisons/headquarters;
2. To release all those who have exceeded their pre-trial detention periods: 6 months for those charged with misdemeanors, 18 months for those charged with crimes, and 24 months for those charged with life sentences or the death penalty;
3. To release all those who have been sentenced unconstitutionally (according to the new constitution) like those charged for publishing, or those charged in emergency courts;
4. The pardon or conditional release for all those convicted in cases where there is no victim.
In November, Egypt will host COP27 (2022 United Nations Climate Change Conference), where political representatives from all over the world will meet to discuss the climate crisis and the future of humanity. As in previous editions, the conference is serving to further delay critical decision-making to agree on solutions to our current crisis, and distracting us with small, insignificant proposals. Sisi’s regime is using this conference to greenwash their humanitarian crimes. He is quoted on the event’s official website, stating: “I deeply believe that COP27 is an opportunity to showcase unity against an existential threat that we can only overcome through concerted action and effective implementation.” Therefore, we call for the boycott of COP27.
On Monday, September 5th, Alaa’s 157th day on hunger strike, we will gather at 18:30, at Largo do Intendente in Lisbon, calling for the immediate release of Alaa and of all political prisoners in Egypt.