2023 arrancou com manifestações contra o custo de vida pela Europa toda, inclusive em Portugal. Ao mesmo tempo, em Lützerath, milhares colocaram os seus corpos na linha contra a expansão duma mina de carvão.
É um ano que nos inspira e que nos desafia.
É também um ano que começámos por desafiar-nos a nós mesmas, na Declaração de Estado de Emergência Climática dentro do Climáximo de Setembro passado. Fizemos agora um ponto de situação do nosso lado e queremos partilhá-lo contigo.
A primeira medida na Declaração foi uma aposta na criatividade e imaginação para alcançarmos visibilidade incontornável e disrupção permanente.
Houve algumas novas experiências (táticas de bloqueio, subvertising, novos murais) mas estamos muito aquém do que é necessário. Estamos a preparar-nos para ações fortes nos próximos meses em dois temas: Parar o Gás e Abolir Jatos.
A segunda medida foi uma reestruturação do nosso funcionamento, para estabelecer equipas autossuficientes e corajosas que integram as aprendizagens do passado e arriscam-se a novos erros.
Mudámos quatro coisas ao mesmo tempo: 1) a nossa estratégia, 2) o funcionamento e o propósito das reuniões, 3) capacitação das novas coordenadoras, 4) integração de novas pessoas no movimento e no coletivo.
Na nossa estratégia, temos três focos: contra gás fóssil, contra aviação e por Empregos para o Clima. Cada campanha atualmente tem planos próprios, equipas funcionais e formas de envolvimento distintas.
Isto tem um impacto no nosso funcionamento, porque nas reuniões do Climáximo o debate político e estratégico ocupa muito mais espaço que assuntos operacionais (que são delegadas às campanhas).
Isto, pela sua vez, muda como as campanhas funcionam e como novas pessoas podem envolver-se.
Por um lado, as coordenadoras das campanhas devem ter autonomia e para isso construimos uma estrutura de acompanhamento direto (mentoring). Por outro lado, para novas pessoas, criámos um novo modelo de reunião introdutória (Entra no Clima) que permite integração nas campanhas e estabelecemos um modelo de acompanhamento direto (buddies) de três meses para facilitar integração.
A terceira medida foi uma aposta na abertura para participação das pessoas fora de Lisboa e colaboração intra-movimento pela justiça climática.
Todas as campanhas têm um elemento online, para permitir participação a pessoas por todo o país. Mais particularmente, a campanha Empregos para o Clima tem um grupo de trabalho de Sines e a campanha Gás é Andar para Trás tem uma equipa no Porto. Com a mesma lógica, o Encontro Nacional pela Justiça Climática acontecerá este ano em Coimbra, pela primeira vez fora de Lisboa.
Em termos de colaboração com outras organizações, conseguimos duas novidades. Primeiro, o Encontro Nacional envolveu muito mais grupos ao longo das preparações. Para além disso, em Novembro de 2022, foi criado uma coligação de ação, Unir Contra o Fracasso Climático.
A nossa quarta medida prende-se com resiliência.
Estivemos a trabalhar intensamente nas várias vertentes deste tema. Dezenas de reuniões resultaram em dezenas de protocolos internos sobre comunicação, apoio legal e segurança digital.
Em relação à nossa resiliência financeira, a nossa rede de auto-financiamento está a melhorar. Alcançamos alguma estabilidade para os custos básicos durante 2023 mas enfrentamos muitos custos – materiais ações, custos legais, trabalho de manutenção – que ainda não conseguimos cobrir.
Nenhum destes está ainda estável e sólido. Vamos continuar a trabalhar neles.
A quinta medida da Declaração foi de desafiar o movimento internacional pela justiça climática para se ancorar na realidade climática.
Em Outubro de 2022, a Conferência Global de Acordo de Glasgow acorreu em Istambul, com uma participação muito baixa. Este foi um espaço que não conseguiu superar o desafios da pandemia. Para manter a coordenação internacional a nível de narrativa e ações, investimos numa das propostas que tinha saído do Acordo de Glasgow, a plataforma de ações de solidariedade de resposta rápida: This is Our Story.
Ao mesmo tempo, organizámos várias sessões (online e presenciais) de Handbrake to Stop Climate Collapse com participação de centenas de ativistas pelo mundo inteiro.
Todas as campanhas também estiveram presentes e ativas nos encontros e conferências que aconteceram este inverno.
Ainda estamos a explorar a melhor forma de continuar este trabalho.
A última medida, desde que temos a Declaração, é da de desafiar e a mitigar os comportamentos sexistas a que fomos socializadas.
Tivemos várias tarefas concretas para estes meses. Desenvolvemos um novo processo de acompanhamento mais completo a novas porta-vozes. Ativamente redistribuímos as tarefas políticas e reprodutivas, e atualizámos o nosso acompanhamento de pares (buddies).
2023 vai ser um ano de todas as lutas. Nos próximos meses estarão em disputa as histórias que contamos umas às outras, estará em disputa o que é possível. Cabe a todas nós garantir que este é o fim da era da indústria fóssil e, e que deste fim construimos uma sociedade mais justa.
Voltaremos a reportar o que andámos a fazer, daqui a três meses.