No dia 14 de outubro, decorreu um fórum de discussão do Climáximo, em colaboração com o Centro Social Autogerido (CSA) A Gralha, no Porto, subordinado ao tema “Quem domina o sistema agroalimentar capitalista? Impactos, extrativismo e resistências”.
A pergunta foi prontamente respondida: o sistema agroalimentar é dominado por algumas indústrias, que contam com o apoio do Estado através de financiamento, subsídios, entre outros. A primeira indústria apontada foi a da agropecuária, que consome a maioria dos recursos do planeta, mas é responsável por, apenas, 30% da produção alimentar mundial. Foram mencionados os monopólios de empresas como a Monsanto, Bayer, Tyson e Cargill, bem como a Nestlé, que chegou primeiro do que os missionários a algumas comunidades. Também os supermercados tiverem destaque na discussão, uma vez que tentaram, propositadamente, obliterar as pequenas mercearias, outrora espaços de socialização das mulheres, com preços baixos.
Os impactos do sistema capitalista produtor de necessidades e dependências em que vivemos são extensos e variados: exploração laboral, de animais humanos e não-humanos; racismo ambiental; classismo; perda de diversidade e monoculturas; desertos alimentares; fome e má nutrição; obstáculos à produção e venda de produtos; falta de alternativas acessíveis; obscurantismo quanto à proveniência dos produtos e ao uso de agroquímicos, entre outros. As empresas como a McDonald’s impõem novos paladares que “atropelam” os sabores locais, a preços muito mais baixos; as empresas como a Bayer vendem o veneno e o antídoto; a BP criou o termo “pegada ecológica” para culpar os consumidores pela poluição. Quanto às marcas do extrativismo, altamente colonial, estão bem presentes na desflorestação da Amazónia para produzir soja e albergar inúmeros animais; ou até na obsolescência programada dos eletrodomésticos, cujos resíduos vão para países asiáticos, destruindo as comunidades locais.
As possíveis resistências ao sistema agroalimentar capitalista são, também, variadas. A ênfase recaiu no poder comunitário, visto que os atos individuais não são suficientes e o fosso entre o povo e o Estado é cada vez maior. Assim sendo, torna-se necessário fomentar a partilha de bens e conhecimentos, investir no cooperativismo como ponto de partida para uma produção e distribuição mais justa para os trabalhadores, fortalecer vínculos e apostar em hortas comunitárias para combater desertos alimentares. Outras alternativas sugeridas foram a implementação de moedas locais para ajudar a economia e conhecer melhor os produtos da comunidade, a adoção de um rendimento básico incondicional para devolver tempo às pessoas, a criação de grupos de consumo autogerido, o incentivo à educação para a alimentação e o impacto no ambiente, bem como a construção de redes de reparação de eletrodomésticos e afins. Como exemplo do impacto das redes populares de apoio mútuo, as anfitriãs do fórum partilharam a sua experiência. Aquando do surgimento da pandemia, A Gralha distribuiu cabazes de produtos doados pela comunidade ou em respigas, ajudando centenas de pessoas, incluindo migrantes, trabalhadoras do sexo e crianças. Sem um caráter assistencial, de igual para igual, o espaço criou vínculos com a comunidade e teve um impacto maior do que alguma vez esperado.
Com isto, provou-se que o sistema está podre e que não são as grandes entidades que ajudam as pessoas. Como tal, a par do esforço comunitário, devemos exigir mudança não só às multinacionais, mas também aos governos, uma vez que estão em conluio com as empresas. Resta-nos o poder de manifestação como ferramenta de pressão e combate contra a repressão.
As pessoas têm voz e querem ser ouvidas. Junta a tua voz à nossa e VAMOS JUNTAS à refinaria da Galp, em Sines, no dia 18 de novembro. Sabe mais em www.climaximo.pt/vamos-juntas.