1.5 ºC pelas nascentes – GAIA Alentejo

No sudoeste alentejano e em toda a península Ibérica os efeitos das alterações climáticas já se fazem sentir. As principais vulnerabilidades a que estamos sujeitxs são a cada vez menor precipitação (falta de chuva) e as cada vez mais frequentes ondas de calor, que potencialmente conduzirão à falta de água para os ecossistemas, populações e agricultura, bem como de a incêndios destrutivos. A meta de manter o aquecimento global no máximo nos 1.5 graus significa que continuará a chover e que podemos ainda ter a oportunidade de viver e prosperar.

Em todo o Portugal moderno, e o sudoeste não é excepção, o abastecimento de água potável às populações é extremamente vulnerável.

A grande maioria da população depende do abastecimento centralizado por parte de empresas, para obter o líquido vital. Mas nem sempre foi assim. No passado não havia água canalizada, as pessoas bebiam, lavavam e regavam as hortas das nascentes, rios, fontes e poços. Eram populações autónomas e vinculadas à natureza, por isso protegiam as suas águas pois sem elas não viviam. E foi assim durante milhares de anos. Incontáveis são os povoados antigos junto de rios ou nascentes. No sudoeste ainda se encontram resquícios desse passado, na presença de pessoas marginalizadas e esquecidas que se aguentam num interior profundo, tão perto do mar, e que ainda dependem e fazem uso dos recursos que a natureza dá. Esses modos de vida estão gravemente ameaçados, seja pelas políticas do estado, seja pelas alterações climáticas.

Desde a instalação progressiva de um modelo de produção industrial, e do afastamento derradeira das pessoas da natureza, muitas nascentes foram esquecidas, e muitas (a maioria) contaminadas, outras aterradas ou pura e simplesmente secaram. Quem ainda guarda memória destas recorda-as com ternura e admiração. Qualquer falha grave que haja nos sistemas centralizados significa que milhões de pessoas em Portugal, e milhares no sudoeste, vão ficar sem acesso à água, e mesmo que as pessoas se lembrassem onde as fontes estão, encontrarão as fontes? a água será ainda boa para beber? o acesso estará livre ou terá sido barrado por interesses multinacionais e corporativos?

Odemira possui uma grande barragem no Litoral Alentejano, a de Santa Clara-a-Velha, cuja água provém das serras Ouriquenses e Almodovarenses, bacias do Ode Mira, que em árabe significa rio das princesas. Serras que estão cobertas de eucaliptos, e cuja água corre em direção e enriquece a charneca, condenando o interior serrano e declivoso à seca, ao envelhecimento e ao sub desenvolvimento. O abastecimento de água no Litoral Alentejano depende desta barragem, cuja cota diminui de semana para semana, e que compete ferozmente com as necessidades da charneca sedenta.

O cuidado pelas nascentes enquanto prática a ser desenvolvida pelas populações modernas  é também um convite para olhar a água invisível, que sustem a vida dos ecossistemas, (como por exemplo a água dos lençóis freáticos, mas também a água naturalmente acumulada nas zonas baixas da paisagem, lembrando claro o quanto as florestas são reservas de água…)  ao invés de afunilar na lógica das grandes barragens – sistemas de gestão da água centralizados. Assim convidamos a abrir a porta para o cuidado:

– das linhas de água,
– das galerias ripicolas,
– dos habitats de zonas húmidas,
– dos bosquetes das cumeadas
– do imenso organismo, o solo, que guarda a fronteira entre o céu e a terra.

Plantar água em vez de plantar desertos, ainda que pintados de verde.

Se queremos continuar a habitar este planeta precisamos travar o aquecimento descontrolado. Precisamos resgatar os conhecimentos antigos, de quem ainda os tem, que nos permitiram viver e prosperar durante milhares de anos. Precisamos travar a contaminação, democratizar o acesso à água às populações marginalizadas, e urgentemente precisamos plantar florestas biodiversas, as grandes florestas são as protagonistas do ciclo da água, cuja consequência da sua existência é que a água corra limpa e livre!

Água é vida, sem ela não há nada.

GAIA Alentejo
https://gaiaalentejo.wordpress.com/


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